Olha Viviane, esta passagem da Primeira Carta de Paulo aos Coríntios é uma das mais belas que encontramos na Literatura Paulina. Paulo se utilizou de um antigo hino cristão e o adaptou para ajudar os leitores da carta entenderem seu recado. Ele retoma novamente a questão dos carismas e dá uma outra dimensão. Para Paulo o maior dom que possa existir é o amor. Sobre este capítulo existe muita materia escrita, comentários e explicações. Muitos utilizam este texto para exemplificar suas argumentações. Colocaremos alguns pontos de vista sobre o versículo, nos atendo na primeira parte mas sem querer esgotar o assunto.
Duas considerações para melhor entender o versículo 13,1.
O versículo 1 se encontra no conjunto do capítulo 13, que boa parte dos autores o dividem em três partes: O carater superior do amor (vv.1-3; as obras produzidas pelo amor (vv.4-7; a permanência do amor (vv.8-13)
Consideramos no primeiro versículo o que venha ser a língua dos anjos e a excelência do amor.
Como se manifestará a Língua dos Anjos e o que o texto sugere!
Os anjos, segundo as escrituras são seres de grande inteligência, capazes de executar, a pedido de Deus, tarefas complexas, são mensageiros por excelência e capazes de falar aos homens na sua língua desempenhando tarefas que foram a eles atribuidas.
Quando falamos em língua dos anjos não queremos entrar no mérito de serem estas línguas diferentes e mais complexas que as línguas dos seres humanos, mas cremos que elas têm o mesmo nível de complexidade da língua humana existente, pois caso contrário, haveria um impedimento de comunicação dos anjos com os homens e faria dos anjos seres com desenvolvimento intelectual menor que os humanos, e isto não é verdade.
O que o apóstolo Paulo estava dizendo aos cristãos da comunidade de Corinto com a expressão línguas de anjos?
Paulo em 1 Coríntios 13, mostra a falta de Cristianismo e exorta a Comunidade de Corínto, no fato de quererem usar outros idiomas na comunicação com os novos membros que chegavam, desprezando-os e com isto faltando com a vivência do mandamento do amor com os que procuravam a Igreja a fim de conhecer a mensagem do Evangelho.
O que esta claro neste texto:
O condicional da frase: "Ainda que eu falasse." Mostra que Paulo não falava línguas de anjos. Se confirma no final da frase : ainda assim, sem amor, não teria qualquer valor.
Isto indica a possibilidade (que entretanto não havia) de alguém falar as línguas faladas pelos anjos ao se comunicar com os outros. No texto segue Paulo dizendo que se tivesse fé suficiente para transportar os montes e não tivesse amor, nada seria. Seria algo tão glorioso falar em todas as línguas dos homens e dos anjos quanto seria o fato de transportar as montanhas através da fé. São fatos colocados por Paulo lado-a-lado como sendo semelhantes.
Seria glossolalia a Língua chamada dos Anjos?
Autores dizem que a glossolalia é a língua dos anjos.O que seria a glossolalia? A glossolalia seria um falar em êxtase e não passa de uma série de sílabas desconexas, colocadas ao acaso, sem estruturas lingüísticas definidas. Tratando a Glossolália assim estamos desqualificando ela como uma língua, já que não tem nenhuma das estruturas necessárias, e concluindo assim como uma desqualificação tratando-ser das línguas dos anjos.
Os estudiosos da linguagem observam na comunicação falada a sua estruturas como substantivos, adjetivos, verbos, pronomes, adverbios, expressões adverbiais, preposições, conjunções, etc. Assim, falando a língua dos anjos estariamos falando uma língua que poderíamos reconhecê-la como sendo uma língua verdadeira e concreta, ainda que celestial, o que não acontece
Entendendo a mensagem do versiculo 1:
Nesse texto, escrito em grego, Paulo proclama a superioridade do amor sobre os demais dons, carismas e virtudes humanas. A comunidade cristã de Corinto estava se dividindo, retornando aos costumes dos pagãos, encaminhando-se para a licenciosidade próprio de cidades portuárias helênicas, os cristãos estavam fugindo do espírito de amor, paz, solidariedade e pureza que deveria nortear os seguidores de Cristo.
O objetivo de Paulo nesta primeira carta aos Corintios é restabelecer a unidade entre os cristãos, uma vez que a divisão não é obra do Espírito. No encerramento da carta o apóstolo apresenta os dons de Deus (Cap. 12), como preparação para o proximo capítulo, onde aborda o "dom maior": o amor (Cap. 13).
A palavra amor é uma das palavras mais pronunciadas por todos nos. Declaramos nosso amor por tudo e por todos. Será que amamos de fato na mesma intensidade em que mencionamos essa palavra?
Neste tempo em que o ser humano é tão carente de afeto, entristece a todos a constatação de que se fala muito em amor, mas não sabem amar. O amor continua sendo uma questão de busca pessoal. Por causa da sociedade materialista, do egoísmo das pessoas e da busca desenfreada do prazer, amar continua sendo um desafio para a sociedade.
O final do capítulo 12, fala dos carismas concedidos à comunidade cristã e Paulo prepara os leitores para a compreensão do dom mais precioso, que é o amor:
"Procurem com zelo os dons maiores. Eu vou mostrar-lhes um caminho sobremodo excelente". (1Cor 12, 31).
Tal construção literária nos leva a concluir que o amor é o primeiro dom de Deus e a soma de todos os carismas. Como primícia dos dons maiores, os que mais edificam as pessoas e as comunidades, situa-se o amor. Há dons edificantes (que aproximam o homem de Deus) e dons de serviço (que realizam no mundo o projeto de Deus). O amor torna-se a síntese de todos eles. Esta maneira de comprender este versículo está em sintonia talvez com os místicos da Idade Média que chamavam este texto da Carta aos Coríntios como "o salmo do amor", do qual Cristo é o modelo.
Em conclusão:
Podemos afirmar que o fio condutor da mensagem escatológica de São Paulo é o amor de Deus, e o amor-agápe entre os homens. O amor segundo Paulo dirigindo a mensagem a comunidade de Corintos torna-se o fato gerador de toda a atividade cristã. É por esta razão que deve-se sempre agir de acordo com a inspiração divina. O apóstolo nos revela, na sua pregação e atividade pastoral, que esse princípio organizador, o amor cristão, deve ampliar-se, transcender horizontes, insuflando nas pessoas desejos de acolhida, serviço e salvação. Estes fatos Paulo não estava encontrando resposta na incipiente Comunidade por ele fundada.
Nessa pedagogia de amor e cruz, Deus nos mostra, pelo despojamento de Jesus, que o amor, para ser eficaz, não pode medir conseqüências nem estabelecer limites. Amar é sempre ir mais além. O cristianismo impõe à Igreja a necessidade de um amor consistente, a Deus e ao próximo como tarefa aos que buscam a salvação.
Amar é dar-se, continuamente, sem jamais, em momento algum, exigir nada em troca. É querer - nunca é demais repetir e realizar o bem do outro, mesmo expondo-se a um sacrifício. O amor verdadeiro se regozija com a Verdade, que é o próprio Cristo, nossa paz. Amar, ser justo e ter paz são juízos convergentes Amar é estar a serviço, é crer e esperar.
Nesta perspectiva podemos entender o final do versiculo primeiro "e se não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine"(1 Cor 13,1) desta forma:
Se não tenho amor, o amor de Deus para com toda a humanidade, por causa Dele, e só Dele, eu não sou melhor diante de Deus do que os instrumentos que soam semelhante ao latão, que muitos usam nas cerimônias de adoração a deuses pagãos. Ou ainda como o címbalo que retine. Este címbalo foi feito de duas peças de bronze, ocas, que, sendo atingidas por um bastão de ferro ou madeira, fazem tilintar, mas na verdade um som muito fraco. Se não vivermos o mandamento do amor, segundo o pensamento de Paulo seremos como o metal que soa ou como o sino que tine. Paulo quer que o amor na Comunidade de Corinto seja contangiante e soe por todos os lados, e chegue ao ponto de atrair os pobres e mais pequenos para a comunidade.
Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. O que quer dizer?
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