Quem é mudo não tem nenhum demônio. É só a expressão do limite humano e a encarnação de dificuldades que não estão no plano divino, mas são frutos das escolhas e decisões humanas. A culpa não é imputada indivudualmente à própria pessoa que sofre essa dificuldade, mas é um mal que pertence à humanidade como um todo.
No tempo de Cristo, como hoje em dia, existia alguns que pensavam que a doença – ou a desgraça em geral – era a consequência de um pecado. É emblemática a passagem contada por João no capítulo 9, quando diante de um cego de nascença, os discípulos perguntaram a Jesus: “Rabi, quem pecou, ele ou seus pais?” A resposta de Jesus é muito importante: “Nem ele nem seus pais pecaram, mas é para que nele sejam manifestadas as obras de Deus”. O cego, invés de ser expressão do mal - endemoniado, é instrumento para a manifestação de Deus; Deus se revela através da fraqueza humana, transformando-a.
Satanás
Muitos cristãos, como eu, têm dificuldades para entender certas práticas muito comuns em tantas igrejas que nascem em todos os lugares que experimentam e fazem ver como conseguem experimentar o fato de expulsar os demônios das pessoas. Apesar desse ceticismo com práticas odiernas, não é possível negar a frequente presença do demônio no Novo Testamento. Podemos, como ponto de partida, lembrar da pergunta que o “espírito impuro” faz a Jesus, segundo Marcos 1,24: “viestes para arruinar-nos?”.
Marcos coloca Satanás no primeiro episódio da vida pública de Cristo, no confronto no deserto (1,12-13) e sublinha também que a primeira ação de Jesus para com as pessoas é a libertação do “espírito imundo” mencionado acima, em um sábado, na sinagoga (1,23 seguintes).
Vedendo o conjunto dos textos dos evangelhos que falam do demônio, poderíamos fazer três considerações:
1. O confronto com Satanás envolve Jesus, o ser humano e os discípulos. Isto demonstra que o centro não é o mal, Satanás. Fala-se dele para mostrar o sentido da missão de Jesus, que no começo do seu ministério público precisa do “segredo”, para não comprometer a sua obra.
2. O demônio não está presente só durante a fase terrena do ministério de Jesus, mas continua também depois da sua ressurreição, na Igreja: Satanás já foi vencido, mas continua ameaçando a existência de cada pessoa, que reza a Deus pedindo para não “cair na tentação”
3. O espírito do mal se manifesta em diversas maneiras: na tentação, na doença, mas sobretudo na oposição ao plano de Deus. Isso tudo se traduz em pecado.