Essa situação é apresentada em Apocalipse 20,1-3:
Depois disso vi um Anjo descer do céu. Nas mãos tinha a chave do Abismo e uma grande corrente. Ele agarrou o Dragão, a antiga Serpente, que é o Diabo, Satanás. Acorrentou o Dragão por mil anos, e o jogou dentro do Abismo. Depois trancou e lacrou o Abismo, para que o Dragão não seduzisse mais as nações da terra, até que terminassem os mil anos. Depois disso, o Dragão vai ser solto, mas por pouco tempo.
Em relação à resposta à sua interrogação, primeiro de tudo é fundamental lembrar que estamos falando do livro do Apocalipse. Esse livro faz parte de um tipo de literatura particular, cuja característica principal é o uso de símbolos que transmitem uma mensagem que os transcendem. Se ficarmos no símbolo em si, perdemos o foco da mensagem que é transmitida. Ou seja, não é possível pegar o texto do Apocalipse e lê-lo ao pé da letra. Uma leitura literal conduz muitos a pensar em um reino milenarista, primeiro de Deus, com o Diabo preso no Abismo, e depois, do Dragão, que será solto.
Essa interpretação é fruto de uma leitura errada do Apocalipse e demonstra uma capacidade limitada de interpretar a linguagem simbólica típica do autor desse livro e até mesmo um limite muito grande em ler a Bíblia no seu conjunto.
Os mil anos têm um sentido de plenitude, pois é composto da multiplicação do número 10, que é o número que indica plenitude e, ao mesmo tempo, um tempo limitado, não eterno.
O primeiro tempo é aquela da Igreja, o tempo que está entre a vinda de Jesus e o final dos tempos. Durante esse período, o cristão participa da vitória de Cristo. A mensagem indica que a ação negativa de Satanás é limitada e, com certeza, não terá sucesso, pois o fiel deve ter esperança em Cristo, através do qual é evidente a presença eficaz de Deus na nossa história.
Não é verdade que quando lemos um romance sabemos que está contando uma ficção? Isso se dá pelo fato que se trata de um tipo de literatura, um romance. Se leio um livro de história, sei que está falando a verdade sobre fatos acontecidos e não penso que está inventando. O conhecimento anterior que temos desses dois tipos de literatura condiciona a nossa interpretação. Assim também temos que nos comportar diante do literatura apocalíptica: é um estilo de escritura que deve condicionar, a priori, a nossa interpretação, sem com isso correr perigo de estar errando a interpretação. Se tento ler o Apocalipse ignorando a sua linguagem simbólica, erro tudo.