Aqui está a pergunta completa:

A parábola das dez virgens é uma história de um casamento poligâmico judaico? Toda a sociedade israelita era poligâmica. Toda a nação de Israel era poligâmica. Casar com dez, cem e até mais mulheres era um costume judaico. A igreja católica enganou todo mundo?

Não há engano no ensinamento cristão e também é errado pensar que a sociedade israelita era poligâmica. O ideal do amor monogâmico é um ideal bíblico e o momento culminante da expressão desse ideal se encontra no livro do Cântico dos Cântico.

Historicamente, é necessário fazer uma distinção entre a vida do povo hebreu e a vida do rei. Nas biografias dos reis é possível ver resquícios da poligamia, mas não na vida do povo. Mesmo no tempo de Cristo a poligamia não era uma questão que se colocava, sendo óbvio que o judeu tivesse apenas uma esposa. Entre algumas correntes do judaísmo se discutia sobre a possibilidade do divórcio, rejeitada por Cristo, mas não sobre a possibilidade da poligamia.

A parábola das 10 virgens toma como background a corte e a vida dos reis. Os elementos ali presentes, que representam o cenário, não têm nenhuma função de conteúdo, mas servem tão somente ao objetivo de transmitir uma mensagem muito clara: é preciso estar preparado para a chegada do Senhor! Nas parábolas, não devemos interpretar tudo o que aparece, mas focar na mensagem que ela quer transmitir; são histórias inventadas que servem a uma finalidade específica. Interpretar cada personagem ou cada elemento em si de uma parábola é um erro exegético. Não há nada de histórico em uma parábola. Fazendo um paralelo, seria o mesmo se tentássemos descobrir elementos históricos no conto do Chapeuzinho Vermelho ou outro conto de fadas dos Irmãos Grimm. Eles não podem ser lidos a partir de uma prospectiva histórica.

 

O caso de Salomão

Salomão precisa ser colocado dentro do contexto da corte, do rei. A Bíblia conta que teve muitas mulheres (veja a história de Salomão a partir de 2Reis 3 e sobre as várias mulheres, leia 1Reis 11). Mas diz também que elas foram causa de irritação de Iahweh.

O livro do Cântico dos Cânticos, que foi escrito bem depois do terceiro rei de Israel, é atribuído a Salomão. Ele é um hino à monogamia, ao amor entre o amado e sua amada. A atribuição pseudoepígrafa a Salomão precisa ser vista na perspectiva histórica. O autor bíblico, através desse recurso literário, quer mostrar que o Salomão ideal não é aquele das 1000 concubinas, mas o rei que se dedica e ama a uma pessoa.