Para nós, conhecimento significa a capacidade de armazenar informações, a capacidade de receber e recordar informações sobre diferentes temas. Alguém que conhece bem matemática é aquele que sabe quais são as fórmulas corretas para alcançar o resultado exato; quem tem conhecimento sobre história sabe as datas dos eventos mais importantes; quem conhece geografia, sabe de memória todos as capitais dos países... Na Bíblia, ao invés, conhecimento tem outro significado.
Conhecimento na Bíblia
Cito dois exemplos do início da Bíblia que acredito serem bastante emblemáticos para revelar o significado desse termo na Bíblia.
1. Em Gênesis 4,1 lemos:
Adão conheceu Eva, sua esposa, que concebeu e deu à luz Caim.
É claro aqui que “conhecer” significa relação sexual, da qual nasce Caim. Embora muitas traduções usem outros termos tais como “coabitar”, “se unir”, o termo usado é יָדַע (yada), que significa conhecer. Esse termo aparece mais de 3 mil vezes na Bíblia.
2. Em Gênesis 2,16-17 encontramos:
E Javé Deus ordenou ao homem: «Você pode comer de todas as árvores do jardim. Mas não pode comer da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque no dia em que dela comer, com certeza você morrerá»
É fundamental entender o que significa “conhecimento” relacionado à árvore do Paraíso. Do entendimento correto desse vocábulo deriva a justa interpretação desse capítulo e também do capítulo 3, que conta o pecado da humanidade.
O conhecer na Bíblia não significa a mesma coisa que no ocidente. Conhecimento na bíblia é aquilo que nós procuramos definir com a categoria amor. Para o autor bíblico, o amor perpassa toda a nossa mente, todo o nosso coração. Sabemos que ninguém fica apaixonado por uma pessoa depois de uma série de raciocínios, de elucubrações, de pensamentos. Posso até julgar uma pessoa com categorias lógicas, mas o que determina o amor é outra coisa, algo controlado pelo coração, pela paixão, pelos sentimentos. Isso se resume no querer, que é típico do ser humano. Só o ser humano tem a capacidade de ser protagonista do seu destino, é capaz de escolher. E a tentação é a possibilidade de decidir entre o que é proposto por Deus e aquilo que o ser humano acredita ser correto. Essa decisão é uma declinação do conhecimento, de uma atitude que nasce do coração, da qual o ato sexual é a expressão mais exaustiva.
A árvore do paraíso é uma realidade que indica a orientação rumo a uma escolha moral. Colher o fruto dessa árvore significa colocar-se no lugar de Deus, decidindo, com o próprio conhecimento, o que é bem e o que é mal, ignorando o fato que essa etiqueta já havia sido imposta por Deus. Decidir se um coisa é boa ou má, é tarefa divina. Toda vez que o ser humano quer assumir esse papel, cai, pecando.