O sacerdócio arônico coloca o acento no privilégio concedido ao irmão de Moisés, Aarão, e seus familiares de oficializar as cerimônias, principalmente oferecendo sacrifícios ao Senhor. O sacerdócio levítico vê em todos os descendentes da tribo de Levi, à qual também pertencia Aarão, a capacidade de estar a serviço do culto divino.

 

A questão sacerdotal na Bíblia

Embora na Bíblia exista também uma visão do sacerdócio que transcende o aspecto familiar e hereditário (veja o caso de Melquisedeque e dos patriarcas), é evidente que essa função está intimamente ligada às famílias de Aarão e aos levitas.

Primeiro de tudo, o sacerdócio foi estabelecido na família de Aarão, o irmão de Moisés que foi também o seu “porta-voz”. Por consequência, todos os filhos de Aarão foram sacerdotes. Em seguida esse privilégio passou para toda a tribo à qual ele pertencia, aos levitas, embora esses últimos parecem ter um papel secundário nas funções sacerdotais.

Toda oferta de sacrifícios e oblações era reservada a essa família (Números 16,40). Isso fica evidente na história do Rei Ozias, de Judá, que quis oferecer incenso ao Senhor e foi castigado com uma lepra (2Crônicas 26,16-21). Nessa ocasião o sacerdote Azarias lhe diz:

Não é a ti que compete incensar Iahweh, mas aos sacerdotes descendentes de Aarão consagrados para esse ofício”.

Apesar dessa proibição, às vezes parece que também os profetas, que não eram sacerdotes ofereciam sacrifícios ao Senhor, como é o caso de Samuel, em 1Samuel 7,9 (veja também 1Samuel 9,13; 16,5 e 1Reis 18,31.33).

 

De quem é o sacerdócio?

Os primeiros livros da Bíblia, particularmente Êxodo, Levíticos e Números, sublinham a proeminência do sacerdócio ligada à família de Aarão, que tinha o monopólio das ofertas no altar de Deus. O resto dos membros da sua tribo, tribo dos levitas, tinham responsabilidades menores dentro do Santuário (veja Números 3). Moisés consagrou o irmão e seus filhos como sacerdotes, explicando a eles detalhes de suas funções, enquanto o resto do povo escutava (Levítico 1-7; 11-27). Deus deu a Aarão e sua família o poder de determinar o sagrado e o profano, o puro e o impuro (Levíticos 10,10-11). Dessa maneira foi estabelecida a linhagem sacerdotal derivada de Aarão (veja particularmente Levíticos 9,23-24).

Em seguida, na Bíblia, Aarão e sua descendência não aparecem mais de frequente, exceto naqueles escritos posteriores ao Exílio na Babilônia. Os livros dos Juízes, Samuel e Reis falam de sacerdotes e levitas, mas não mencionam os descendentes de Aarão. O livro do profeta Ezequiel, que reserva muita atenção ao sacerdócio fala até mesmo de uma classe sacerdotal dita Sadoquitas, fazendo referência a um sacerdote do rei Davi.

Isso faz com que os historiadores concluem que a Família de Aarão, seus descendentes, não eram os protagonistas sacerdotais antes do Exílio na Babilônia. Somente com a instauração do segundo templo, depois da volta do exílio, é que eles teriam ganhado força.

Os três livros mencionados acima, onde Aarão e sua família são protagonistas, teriam sido escritos depois da volta da Babilônia e isso justificaria a sua presença.

 

Funções dos sacerdotes

Embora pudéssemos resumir a atividade sacerdotal como a oferta de sacrifícios, a sua função na perspectiva bíblica é muito mais ampla. Poderíamos elencar, entre outras, as seguintes funções que aparecem na Bíblia:

  • Guardar o fogo do altar que queima as ofertas, de dia e de noite (Levíticos 6,12; 2Crônitas 13,11);
  • Colocar olho na lâmpada de outro (Êxodo 27,20; Levítico 24,2);
  • Oferecer os sacrifícios matutinos e vespertinos na entrada do Tabernáculo, acompanhados com uma oferta de carne e de bebida (Êxodo 29,38-44);
  • Ensinar aos filhos de Israel os mandamentos do Senhor (Levítico 10,11; 33,10; 2Crônicas 15,3; Ezequiel 44,23);
  • Cuidar da Arca da Aliança e de todos os vasos do Santuário, cobrindo-os com um manto (Números 4,5-15);
  • Tocar a tromba enquanto o povo marchava (Números 10,1-8);
  • Atuar como juízes em um tipo de corte de apelo durante controvérsias criminais ou civis (Deuteronômio 17,8-13).