Pergunta muito interessante, pois suscita a oportunidade para tantas reflexões do ponto de vista teológico. Por exemplo, junto com essa pergunta poderíamos acrescentar outras:
- Por que Deus nos pede para rezar se já sabe do que precisamos?
- Por que Deus escuta somente a oração de alguns?
Teologicamente, sabemos que Deus é perfeito e, por isso, não precisa ser "incensado" com nossas orações e louvores. Todavia, se lemos a Bíblia ela é cheia de situações onde a oração é protagonista. Pensemos, por exemplo, em Moisés, que enquanto reza faz com que o povo vença; basta que ele se canse, o povo perde a batalha (Êxodo 17). No Novo Testamento, Jesus ensina a rezar (Pai Nosso). E insiste para que rezemos assiduamente, pedindo com insistência, como conta Lucas 18 na parábola do juiz iníquo e a da viúva importuna. A viúva pedia com veemência ao juiz: "faz-me justiça contra o meu adversário". Cansado, o juiz acabou cedendo aos seus pedidos. Jesus então conclui:
«Escutem o que está dizendo esse juiz injusto. 7 E Deus não faria justiça aos seus escolhidos, que dia e noite gritam por ele? Será que vai fazê-los esperar? 8 Eu lhes declaro que Deus fará justiça para eles, e bem depressa. Mas, o Filho do Homem, quando vier, será que vai encontrar a fé sobre a terra?»
Deus nos convida a rezar sempre não porque não conhece as nossas necessidades ou porque não nos escuta. Ao contrário, sabe daquilo que precisamos e nos escuta sempre. A oração faz com que sentimos Deus ao nosso lado e essa é a nossa arma, pois travamos uma luta contínua contra a injustiça, contra o mal e, como Moisés, se abaixamos os braços, perdemos essa batalha. Deus é nosso aliado e a fé nelle é a nossa força, sendo a oração a expressão desta fé. É nesse sentido que precisamos entender a pergunta final da citação acima: "Mas, o Filho do Homem, quando vier, será que vai encontrar a fé sobre a terra"?
Deus quer saber se somos capazers de perceverar na fé. E isso se vê através da oração, que, portanto, deve ser contínua. Mas não para convencer a Deus com as palavras; ele conhece bem aquilo que precisamos.
A oração, então, não significa recitar orações, mas sentir que a nossa vida é inserida em Deus, como a vida de duas pessoas apaixonada:
"o desejo reza sempre, mesmo se a língua silencia. Se desejas sempre, rezas sempre. Quando é que a oração termina? Quando se esfria o desejo" (Santo Agostinho).
Deus escuta a nossa oração?
A oração é o nosso desejo de amor. E Deus escuta esse amor?
Com certeza, como prometido no Evangelho, escuta. O problema é que ele não dá respostas aos nossos pedidos, mas realiza suas promessas, como diz Bonhoeffer. Como cristãos, o nosso grande problema é que não rezemos como convém. Queremos ser escutados como alguém que dá uma moeda e pede, em troca, uma mercadoria. A lógica divina é outra; Deus mantém sua promessa mandando o seu Espírito (Lucas 11,13). João 14,23 diz: "e meu Pai o amará e a ele viremos e nele estabeleceremos morada". É por isso que não se reza para receber, mas para ser transformados; não para receber presentes ou realizações, mas para acolher aquele que se doa, para receber em dom o seu olhar, para amar como ele ama.
O resultado último da oração é a união com Deus e não a satisfação de realizações imediatas, a realização de pedidos concretos.