O texto de Isaías 19,14 diz:
Javé espalhou entre eles um espírito de confusão: eles, com todos os seus empreendimentos, desencaminham o Egito, como o bêbado trança os pés, vomitando (Bíblia Pastoral).
"Espírito de confusão" é a opção usada para traduzir o hebraico ruah 'ivim (ר֣וּחַ עִוְעִ֑ים). Ivim aparece somente nessa passagem, em toda a Bíblia (hapax) e normalmente é traduzida como "confusão" (também a Almeida). Embora a palavra usada seja diversa, lembra bem a experiência vivida em Babel, quando Deus intervem para desmanchar os planos da humanidade que afastava daquele divino.
Texto político
Esse texto desmonta um preconceito muito grande que temos em relação à religião que leva muitos a odiar a mistura de ambientes religiosos com a política. Isaías, nessa passagem, é muito político e trata questões inerentes a essa esfera.
Esse capítulo 19 de Isaías pode ter como título "oráculo contra o Egito". O contexto é a política da judeia por volta do ano 700 antes de Cristo, logo após a caída da Samaria por obra de Sargon, em 721. Nos capítulos precedentes Isaías faz outros oráculos contra a Assíria (cap 14), Damasco (17), Chch - Etiópia (18). O contexto é a da ameaça que a Assíria representa contra Judá, depois de já ter conquistado Reino do Norte, a Samaria. Nos anos 703-702, o rei Ezequias, com medo da invasão Assíria, busca alianças para evitar a derrota e uma delas é com o Egito. Por isso manda uma embaixada ao faraó para solicitar auxílio do Egito contra os assírios. Isaías se opõe a essa aliança (veja também Isaías 30 - 31).
Para dissuadir o rei de Judá na sua tentativa, o profeta descreve o Egito dilacerado pela anrquia que pode levara a uma ditadura ou à dominação estrangeira. Por isso, é inútil pedir ajuda àquela nação, pois nada se pode esperar dela.
A denúncia de fundo que faz o profeta Isaías é a falta de fé do rei de Judá, que invés de centrar a própria política na observância dos preceitos divinos, busca alianças com povos estrangeiros, colocando toda a sua confiança longe do Senhor.