No nosso pensamento, os cananeus são aqueles que moravam na Palestina antes da chegada dos hebreus, vindos do Egito para entrar na Terra Prometida. Tendo chegado no local que Deus lhe havia prometido, tiveram que combater contra a população existente - extamente os cananeus - para poder se instalar naquela terra.

Na verdade é um nome um pouco amplo para designar os habitantes de Canaã, entre os quais estavam também os finícios. Embora não tenham nunca alcançado uma unidade entre os diferentes povos e nem uma independência política, eles transmitiram uma cultura religiosa muito clara, onde prevalecem deuses como El, chefe do panteon, e outros deuses, tais como Baal, Anat, Mot...

 

Na Bíblia

A passagem fundamental onde aparecem os cananeus é Gênesis 10,15-19:

Canaã gerou Sídon, seu primogênito, depois Het, e também o jebuseu, o amorreu, o gergeseu, o heveu, o araceu, o sineu, o arádio, o samareu e o emateu. Em seguida, as famílias dos cananeus se dispersaram. A fronteira dos cananeus ia de Sidônia, em direção a Gerara, até Gaza; depois, em direção a Sodoma, Gomorra, Adama e Seboim, até Lesa.

Outras passagens mostram que eles ocupavam o litoral do Mediterrâneo (Josué 5,1), incluindo a Fenícia (Isaías 23,11) e a Faixa de Gaza, conhecida como Filisteia (Sofonias 2,5). Da mesma maneira, habitavam também no Vale do Jordão (Gênesis 13,12; Números 13,29; Josué 11,3), que é por onde chegaram os hebreus vindos do deserto, depois de terem escapado do Egito, conduzidos por Moisés.

A passagem citada acima, de Gênesis 10, é tradicionalmente conhecida como "Tábua das Nações". Ela quer dar uma visão do mundo depois do Dilúvio, que a Bíblia vê como uma nova criação. Se os cananeus aparecem, em algum modo são vistos positivamente, como uma realidade desejada por Deus.

É verdade que a genealogia bíblica tem como primeira finalidade garantir a identidade étnica do povo de Israel, diante de uma situação que colocava em risco a sua sobrevivência. Todavia, esse recurso literário mostra também um outro aspecto: coloca o povo escolhido por Deus dentro da inteira humanidade, estabelecendo entre os povos uma relação de solidariedade. De fato, a defesa da identidade étnica de Israel só pode ser feita a partir da sua identificação e do consequente reconhecimento dos outros povos.

Embora a genealogia apresentada em Gênesis 10 seja bastante complexa, há um elemento que é fundamental: há um antenato comum a todos, que é Noé. Ele dá origem a toda a humanidade, chamada a proliferar e a encher toda a terra a partir dos seus três filhos: Sem, Cam e Jafé (Gênesis 10,1).

 

Deus mandou matá-los?

Não é verdade que Deus pediu a morte deles. Porém, poderíamos julgar como verdadeiro o fato que, em certo período histórico, os hebreus assim pensavam e assim escreveram na Bíblia.

Lendo passagens da Bíblia precisamos sempre ter presente que a Bíblia é revelação divina que usa "mãos" humanas; é uma mensagem que passa através da vivência histórica. Quando os hebreus fugiram do Egito, tinham certeza que Deus estava com eles, assim como alguém fiel, que hoje passa por dificuldades, sabe que tem o apoio divino. Essa é a mensagem central, o cerne da questão; o tema periférico é em que consiste esse apoio. Até mesmo nós, na nossa caminhada como discípulos, nos interrogamos sobre a identidade do apoio divino: alguns pensam que sejam ações milagrosas, outros que seja a força que nos leva a seguir adiante. O povo de Israel pensava que Deus era como um general, que acompanhava militarmente o povo. Esse era o modo que viam Deus presente, mas não significa que Deus é um general. Havia a lei que dizia que tudo o que era conquistado precisava ser exterminado e se dizia que era Deus que queria assim, pois era a convicção dos que acreditavam em Deus. Com o caminhar da história, com o progresso da revelação, se descobre um Deus que não era assim, mas diferente, que pede principalmente integridade, vida exemplar e sobretudo amor aos inimigos.