Prezado Luiz, você está falando de um texto citado por Mateus 19, que fala de um diálogo entre Jesus e alguns fariseus, que queriam a sua opinião sobre a possibilidade, presente no costume dos judeus, do homem abandonar a esposa. Para contestualizar a resposta cito o texto, em duas versões.

1. Biblia Almeida
19, 3 Aproximaram-se dele alguns fariseus que o experimentavam, dizendo: É lícito ao homem repudiar sua mulher por qualquer motivo?
19, 4 Respondeu-lhe Jesus: Não tendes lido que o Criador os fez desde o princípio homem e mulher,
19, 5 e que ordenou: Por isso deixará o homem pai e mãe, e unir-se-á a sua mulher; e serão os dois uma só carne?
19, 6 Assim já não são mais dois, mas um só carne. Portanto o que Deus ajuntou, não o separe o homem.


2. Biblia de Jerusalem
19,3 Alguns fariseus se aproximaram dele, querendo pô-lo à prova. E perguntaram: "É lícito repudiar a prórpria mulher por qualquer motivo?"
19,4 Ele respondeu: "não lestes que desde o princípio o Criador os fez homem e mulher?
19,5 E que disse: Por isso o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher e os dois serão uma só carne?
19,6 De modo que já não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, o homem não deve separar"


Como você pode ver, lendo a frase no seu contexto, fica tudo mais claro. Existe uma pergunta de Jesus que poderíamos dizer assim: "vocês por acaso não leram que na Bíblia está escrito que "..."?"Jesus está perguntando se aqueles fariseus, que lhe interrogavam, não haviam lido o texto de Gênesis 2,18 seguintes, que cito aqui:
(2, 18) Disse mais o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora que lhe seja idônea. (2, 19) Da terra formou, pois, o Senhor Deus todos os animais o campo e todas as aves do céu, e os trouxe ao homem, para ver como lhes chamaria; e tudo o que o homem chamou a todo ser vivente, isso foi o seu nome. (2, 20) Assim o homem deu nomes a todos os animais domésticos, às aves do céu e a todos os animais do campo; mas para o homem não se achava ajudadora idônea. (2, 21) Então o Senhor Deus fez cair um sono pesado sobre o homem, e este adormeceu; tomou-lhe, então, uma das costelas, e fechou a carne em seu lugar; (2, 22) e da costela que o senhor Deus lhe tomara, formou a mulher e a trouxe ao homem. (2, 23) Então disse o homem: Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne; ela será chamada varoa, porquanto do varão foi tomada. (2, 24) Portanto deixará o homem a seu pai e a sua mãe, e unir-se-á à sua mulher, e serão uma só carne.

Portanto, a pergunta existe. Sublinho, porém, que a pergunta existe somente dentro do diálogo de Jesus, e não no conteúdo da citação de Gênesis. Explico: se uma criança diz para o irmão: não ouvistes que a mãe disse para voltar pra casa? Na frase da criança existe a pergunta, mas o ponto interrogativo não faz parte da frase textual da mãe das crianças.
Esclarecido esse detalhe, é importante notar que o ponto de interrogação do qual você pergunta existe apenas nos nossos textos de hoje, pois no original grego dos textos no Novo Testamento não existia nenhuma pontuação. A pontuação é coisa recente; antigamente, para economizar espaço, o texto era escrito todo em seguida, até mesmo sem espaço entre as palavras. Porém hoje em dia os tradutores não podem mais prescindir deles, embora isso, às vezes, pode provocar qualquer problema de interpretação.
Quanto à mensagem do texto, para alargar o foco de discussão, fugindo até mesmo um pouco da sua pergunta, poderíamos acenar a alguns tópicos, sem sermos exautivos.
Como disse acima, entre os judeus no tempo de cristo existia alguns que toleravam o divórcio. Há vestígios de uma clássica discussão entre dois mestres daquele tempo, Hilel e Shamai, sobre os motivos que justificavam a separação. De qualquer forma Jesus é claro, afirmando a indissolubilidade do liame conjugal. É verdade que em Mateus, em 19,9, o texto insinua que se pode repudiar a mulher em caso de "fornicação", mas a tendência é dizer que essa exceção é um tipo de concessão temporária dada à comunidade judaico-cristã de Mateus, visto que nos outros textos paralelos que falam dessa passamgem (Mc 10,11s; Lc 16,18 e 1Cor 7,10s) não se acena a nenhuma exceção. É preciso também entender o que significa "fornicação", "porneia"em grego. Alguns dizem que se trata de fornicação no casamento, isto é, adultério, e então dizem que esse texto fundamenta a permissão de divorciar em casos semelhantes, como acontece com as Igrejas ortodoxas e algumas protestantes. Os exêgetas, invés, dizem que se fosse esse o sentido, o evangelista teria usado uma outra palavra no lugar de porneia, ou seja, moicheia. Porneia tem aqui provavelmente o sentido de zenut (prostituição), termo técnico usado pelos judeus para indicar toda união considerada incestuosa por causa de um grau de parentesco proibido pela Lei, conforme escrito em Levíticos 18. Tais uniões, consideradas incestuosas pelos judeus, podiam ser consideradas legais no ambiente pagão. O problema ocorria quando esses pagãos se convertiam ao cristianismo próximo ao judaísmo, que dava origem aos assim chamados judeus-cristãos. Para ir ao encontro a pessoas legalistas provavelmente a comunidade de Mateus tenha permido a separação nesses casos.
O importante é que para Jesus o matrimônio era indissolúvel.