Sabemos que para bem entender a mensagem desse livro é mister ser capaz de ler o significado dos símbolos usados e o contexto da literatura apocalíptica, que condiciona o texto atribuído a João.

João tem muita influência dessa literatura mencionada.

Em relação à Besta, o livro de Daniel, do Antigo Testamento, joga um papel importante na construção desse personagem. Aquela apresentada em Ap 13 tem o conjunto das Bestas que aparecem em Daniel 7,3-7. Lá encontramos 4 monstros, entre os quais, o terceiro tem 4 cabeças (4 + 3 = 7) e o quarto monstro tem dez chifres. Além disso, os três primeiros monstros de Daniel são comparados com um leão, pantera e urso, os mesmos animais que aparecem no versículo 2 de Apocalipse 13. Como aquelas de Daniel, também a besta de João sai do mar.

Portanto é evidente que para entender o Apocalipse precisamos entender Daniel 7. Ele está fazendo uma interpretação sobre as 4 fases da história recente do seu contexto, que se resume em 4 impérios bastante grandes: babilônico, medo, persa e aquele de Alexandre Magno, com os diádocos, seus sucessores, sendo os 10 chifres os selêucidas.

O Apocalipse substitui os chifres por diademas, que se opõe à coroa, que é o símbolo da vitória dos justos, o símbolo que caracteriza as pessoas amigos de Cristo. Os monstros demoníacos que saem dos abismos têm coroas falsas, em número definido, sete ou 10.

Tomando esse fundamento em Daniel, o Apocalipse faz uma leitura da história, verificando que não existe muita diferença entre os vários reinos que se substituem durante a história humana: a sua natureza é normalmente má, como é malvado e satânico aquele que está por trás, o poder que o sustenta. Parece que toda a história humana está sob o poder do demônio e os poderes desse mundo são uma emanação direta.

 

Quem é a besta?

Vendo o contexto em que João escreveu, seria normal dizer que para ele esse reino era o Império Romano. Todavia, precisamos tomar muito cuidado, pois a maneira como a besta é descrita parece feita claramente para transcender essa interpretação ou qualquer outra interpretação unívoca. De fato, parece que a besta assume em si todo o poder do mundo. Por isso, as interpretações da besta foram e podem ainda ser muitas.

O que o livro do Apocalipse quer sublinhar é que a característica malvada do poder e a cristianismo são duas realidades incongruentes e o cristianismo deve ter sempre consciência dessa alteridade.