Esses textos de Ezequiel - na verdade do capítulo 40 até o 48, final do livro - é um claro exemplo da necessidade de entender bem o contexto para compreendeer a mensagem que o autor transmite. De fato, para entender bem a Bíblia ajuda muito a leitura também do contexto em que o texto interessado nasceu.
Ezequiel é o profeta do Exílio. Todo o seu ministério foi realizado junto ao povo exiliado, na Babilônia, entre 593 e 571, as duas datas mencionadas no livro (1,2 e 29,17). Além disso, Ezequiel está intimamente ligado ao Templo; é um sacerdote (1,3). O templo é a sua preocupação principal. Não só o templo que será destruído pelos babiloneses e que a Glória de Iahweh abandona (capítulo 10), mas tambémo templo futuro, que é aquele sobre o que o profeta fala nos dois capítulos que você menciona. É para esse templo que Deus voltará (capítulo 43).
Ezequiel não é só sacerdote. É também profeta de ação e, sobretudo, homem de visões. Os capítulos 40 - 48 mostram uma dessas visões, a quarta e última. Nessa visão ele vê um Templo futuro, desenhado como numa planta de arquiteto, donde brota um rio de sonho numa geografia utópica.
Ezequiel quer um novo Israel; sonha com a volta do povo exiliado para Israel e ali sonha a reconstrução do templo, que não é só o templo físico, mas é também um novo modo de viver, que exclui o pecado e sublinha a santidade do povo. Esse espírito será sublimado no Apocalipse, sobretudo no capítulo 21, onde fala da Jerusalém celeste, "um céu novo e uma nova terra".