A Bíblia, no fundo, dá poucas informações biográficas sobre Jesus: nasceu em Belém, foi apresentado no Templo de Jerusalém, fugiu do massacre de Herodes, voltou para Nazaré, ía com os pais para visitar o Templo conforme era costume dos judeus (180 KM de caminhada) e depois começou seu ministério público quando tinha 30 anos e morreu na cruz três anos mais tarde, ressuscitando em seguida.
Sendo pessoas curiosas e rodeadas por informações sobre tudo e todos, gostaríamos de saber muito mais sobre Jesus, uma pessoa assim tão especial para nós. Só que Jesus viveu há 2 mil anos e as coisas então eram diferentes.
o passado, não era fácil escrever. Não existia papel e também a tinta era algo caro e não disponível para todos. Por isso a atividade da escritura era reservada a poucos. Ao mesmo tempo, eram também poucos aqueles que sabiam ler. Portanto, primeiro de tudo precisa considerar que a escritura era um privilégio e reservado a poucos. Isso, para o contexto bíblico, serve para considerar que se escrevia só o essencial e que os escritos eram poucos.
Quem escrevia pensava exclusivamente em transmitir uma mensagem para um público específico. Isso é muito particular em relação aos evangelhos. Os 4 evangelhos falam apenas do essencial e não querem escrever sobre a vida de Jesus, mas sobre a sua mensagem. Os evangelhos não são biografias de Cristo. Portanto, essa é a razão pela qual nada sabemos da vida “escondida” de Cristo. Sabemos que o ministério público de Cristo começou com o Batismo no Rio Jordão. Portanto, é a partir dali que os evangelistas concentram suas narrações.
Mateus e João conheceram a Cristo. O testemunho deles é ocular. Ao invés, Marcos e Lucas não conheceram a Cristo, mas ouviram falar dele e contaram aquilo que receberam e escutaram das pessoas que estiveram com Jesus.
Cada Evangelho tem uma preocupação particular, quer contar certos aspectos da vida de Cristo. É por isso que os 4 evangelhos não são iguais. As vezes, alguns eventos aparecem só em um deles. Por exemplo, a parábola do “filho pródigo” aparece só em Lucas; e as Bodas de Caná é contada só por João.
Essas diferenças servem para sublinhar que a preocupação dos evangelistas, como já dissemos, não é a de contar “tim tim por tim” a vida de Cristo, mas alguns elementos daquilo que ensinou. E não se conta tudo, pois a escritura era algo privilegiado. Veja, por exemplo, o que diz João no final do Evangelh (21,25):
Jesus fez ainda muitas outras coisas. Se fossem escritas uma por uma, penso que não caberiam no mundo os livros que seriam escritos.
Os apócrifos
A curiosidade que você tem sobre o que não se diz da vida de Cristo nos evangelhos não é uma novidade. Já no início do cristianismo as pessoas queriam saber como tinham sido os anos que Jesus passou em Nazaré, até os 30 anos. Para preencher essa lacuna, começaram a aparecer escritos que inventavam episódios sobre a vida de Cristo, que não tem nada de histórico, mas são criados para satisfazer a curiosidade. Essas obras foram escritas bastante tempo depois de Cristo e não têm base histórica e, por isso, não podem ser tomadas como informações confiáveis.
Esses escritos são ditos “apócrifos”. Durante muito tempo essas obras foram “escondidas” (= apócrifo), pois eram tidas como heréticas. De fato, elas trazem coisas que não são ortodoxas e podem provocar incompreensões e falsas conclusões. Mas “esconder” não foi certamente a coisa melhor que se fez. Teria sido muito mais sábio explicar o conteúdo delas e educar as pessoas a lê-las de maneira correta.
Hoje todas essas obras são públicas e muitas podem ser lidas até mesmo na internet. Veja por exemplo esse link.