A Bíblia não menciona em nenhum momento a data do nascimento de Cristo. Por isso, 25 de dezembro não é uma data determinada pela Bíblia, mas definida pela tradição. Mesmo por que o calendário que usamos hoje não existia naquele tempo. Trata-se de uma convenção que começou no mundo ocidental e, aos poucos, se difundiu em todo o mundo, também em ambientes onde o cristianismo não é a religião predominantes. É importante notar que em ambientes onde ainda prevalecem os cristãos ortodoxos (Rússia, Grécia, etc), o Natal é celebrado no dia 6 de dezembro.
Por que 25 de dezembro?
Como já explicado em outro momento, a escolha do dia 25 de dezembro está intimamente ligada ao ciclo da natureza. No hemisfério norte, parte do mundo onde foram estabelecidos esses usos e costumes, dezembro é o mês do frio, o início do inverno. O inverno começa no dia 21 de dezembro e a partir de então, finalmente, o sol começa a ganhar força e os dias começam a prevalecer sobre a noite. Por isso, o sol, na antiguidade, era celebrado nesse período. Existia uma festa que se chamava "Dies Natalis Solis Invicti (dia do nascimento do Sol Invencível), que provavelmente era celebrada no dia 25 de dezembro.
A reflexão teológica, já desde os Evangelhos, compara a importância de Jesus com a luz:
Eu sou a luz do mundo. Quem me segue, nunca andará em trevas, mas terá a luz da vida (João 8,12)
Eu sou a luz do mundo (João 9,5)
É por isso que, quando os cristãos se tornaram fortes, quiseram substituir a festa que se fazia ao sol com a festa para comemorar o nascimento de Cristo, instituindo assim o Natal.
Trata-se, portanto, de uma convenção, que procura recordar a cada ano a encarnação e também sublinhar que Cristo é a luz do mundo, a luz que vence definitivamente as trevas.
E a data da Páscoa?
A data da Páscoa também é ligada aos astros, mas nesse caso à Lua. E tem também conexão com as estações: invés do inverno, está ligada ao início da Primavera, que no Hemisfério Norte começa no dia 21 de março.
Em poucas palavras, a festa da Páscoa para os cristãos se realiza no domingo depois da primeira lua cheia que acontece a partir do dia 21 de março. Por exemplo, em 2019, a primeira lua cheia depois de 21 de março será no dia 19 de abril, que é sexta-feira. O domingo seguinte, dia 21, será o dia da Páscoa.
Essa é a razão da "mobilidade" da festa da Páscoa, caindo em dias diferentes em cada ano, entre o dia 22 de março (se 21 for lua cheia e 22 for domingo) e 25 de abril (se 20 de março é lua cheia, precisa esperar a próxima, que será dia 18 de abril e se esse dia 18 de abril for domingo, a páscoa se celebra no domingo seguinte, dia 25 de abril). É uma convenção definida há muitos séculso, no Concílio de Niceia, no IV século.
Sobre a Páscoa, ao contrário do Natal, há algum indício sobre a sua ocorrência. De fato, sabemos que aconteceu durante a celebração da festa da Páscoa Hebraica, que recorda a saída do povo do Egito, liderado por Moisés, quando os hebreus deixaram a escravidão nas terras egípcias e caminharam em direção da Terra Prometida. Mas esse indício não nos permite determinar com exatidão o dia da morte de Cristo. Já o fato que a festa hebraica dura 7 dias não nos permite definir bem em que dia Jesus morreu na Cruz. Além disso, a festa hebraica tem como base um calendário lunar, cujos dias são flexíveis e não caem sempre nos mesmos dias, em cada ano.
A festa da Páscoa Hebraica é celebrada sempre no dia 15 de Nisan (primeiro dia da festa), que em 2018 caiu no 31 de março, mas em 2019 será no dia 19 de abril.
Mesmo com os indícios bíblicos, não é possível determinar com exatidão qual foi o dia da Páscoa em que Jesus morreu. Essa é a razaõ pela qual se recorre à convençao estabelecida em Niceia.
O papel do Império Romano e o fundamentalismo religioso
As pessoas fundamentalistas vão logo colocar a culpa dessas duas celebrações tradicionais cristãs no Império Romano, visto que foram fixadas quando a Igreja conseguiu se impor graças também ao consórcio com o poder temporal. Pessoas que pensam serem autoridades acreditam que se estamos diante de uma situação determinada pela tradição, pela vivência dos primeiros cristãos deva ser considerada pouco séria e, de consequência, precisa ser rejeitada. Contam só as palavras literais da Bíblia, dizem alguns. Esse preconceito faz com que se perca uma oportunidade única de viver e colocar em prática a mensagem de Cristo.
Os fundamentalistas gostariam que estivesse escrito na Bíblia: "celebre-se o natal no dia 25 de dezembro"; "Seja celebrada a Páscoa na primeira lua cheia da primavera" ou outra norma mais evidente. Não é assim! Por causa da lógica divina, a Bíblia não é um ditado divino, um livro que cai do céu pronto. Deus se revela aos poucos, respeitando a liberdade humana, os tempos próprios da nossa capacidade de entender as coisas, principalmente a nossa relação com o divino. É claro que a Bíblia é o lugar privilegiado da revelação, mas ela continua também na história humana. Deus não parou de se revelar quando se encarnou. Repito: a revelação continua através da história.
O conúbio entre religião e poder político foi e, em alguns casos, ainda hoje pode ser motivo de pecado e de muitos erros. Mas não devemos pensar que a história do cristianismo das origens, quando ainda não existia a igreja católica, Igreja Ortodoxa, Igreja Protestante, mas era simplesmente "Igreja Cristã", tenha sido completamente ditada por Constantino, pelo Império Romano. Os cristãos de então também refletiam, tinham a própria fé e lutavam para colocar em prática os ensinamentos de Cristo, de maneira autêntica. Não é justo reduzir todo o cristianismo de então com os óculos da divisão que existe hoje e nem é justo escapar da própria herança histórica, pois você que é protestante, evangélico ou de uma denominação diferente da católica pertence também àquele tronco.
Fazer uma análise histórica é necessário, mas não é justo reduzir toda a complexidade à nossa visão estreita e preconceituosa e, na maioria das vezes, pouco informada sobre os fatos objetivos.