O tema de anjos - e arcanjos - suscita muita curiosidade, mesmo se as nossas convicções sobre esse assunto sejam muito limitadas e teologicamente o tema seja pouco abordado. Acredito que a curiosidade é devida ao fato que os anjos sejam figuras ligadas ao divino, mas não propriamente deuses, que nos aproximam do mundo transcendente, como instrumentos que nos ligam ao divino.

 

Arcanjo Ariel

Esse arcanjo não aparece na Bíblia, mas possivelmente só na literatura apócrifa. Infelizmente não encontrei a passagem exata aonde venha nomeado. Li que apareceria em uma obra entitulada Pistis Sophia, que é um texto gnóstico, escrito por volta do ano 500 depois de Cristo e que tem pouco autoridade como ensinamento cristão. Esse livro tem a falsa pretenção de mostrar os ensinamentos que Jesus teria revelado aos discípulos (também a sua mãe, Maria, a Maria Madalena e a Marta), depois da sua ressurreição. Nesse livro se descrevem aquelas que segundo o autor gnóstico seriam as complexas jerarquias do céu, típicas dos ensinamentos gnósticos. Encontrei na internet uma cópia desse texto, mas nenhum sinal do “arcanjo Ariel”.

É provável que exista uma confusão com outro nome de arcanjo mais conhecido, ou seja Uriel (chama de Deus), que é frequentemente identificado com o querubim mencionado em Gênesis 3, o custódio das portas do Paraíso. A literatura apócrifa atribue a ele a tarefa de gestir a tempestade e o terror (Primeiro Livro de Enoque). No Apocalipse de Pedro é o anjo do arrependimento, que não tem piedade. E em Vida de Adão e Eva, Uriel é, como dito, o guardião das portas do Éden e também um dos anjos que sepultaram Adão e Abel no Paraíso.

Uriel aparece também no Segundo Livro de Esdras, um livro também considerado apócrifo. Nessa passagem, ele é enviado por Deus para instruir Esdras, depois que esse coloca algumas questões diante de Deus.

 

Arcanjos na Bíblia

Normalmente, segundo a tradição judaica, se conhecem sete arcanjos: Gabriel, Miguel, Rafael, Uriel, Ithuriel, Amitiel e Baliel. Todavia, na Bíblia, apenas aparecem os três primeiros (Gabriel, Miguel e Rafael). Os outros quatro são mencionados na literatura apócrifa, já 2 séculos antes de Cristo, especificamente no Livro de Enoque (capítulo XXI), ondem intercedem perante Deus pela humanidade

No Novo Testamento “Arcangelo” é um termo que em 1Tessalonicenses 4,16 e Judas 9, embora a mesma ideia seja sublinhada em Apocalipse 8,2.7; 9,1.13; 11,15).

 

Anjos no Antigo Testamento

A palavra “anjo” significa “mensajeiro” e o arcangelo é como se fosse o chefe dos anjos: archein (comandar) + angelos (mensajeiro), ou seja, “comandante dos anjos”.

Jó 1,6 fala dos anjos como se fossem membros da corte celeste, que louvam e servem a Deus (veja Isaías 6,2 seguintes). Segundo o texto bíblico, da corte divina fazem parte também outras figuras, nem sempre chamadas de “anjos”, como por exemplo os “santos”, os “fortes”, os “herois”, os “filhos de Deus”. São sempre considerados criaturas e por isso têm defeitos (Jó 4,18; 15,15). Eles são instrumentos de revelação divina (Zacarias 1,9.11; Ezequiel 40,3). Podem ser exterminadores (êxodo 12,23), anjos de morte ( Jó 33,22; Provérbio 16,14; Salmos 91,11) ou anunciadores de desaventura (Salmo 78,49).

Anjos especiais são os querubins, seres com asas, metade homem e metade animal (Gênesis 3,24; Ezequiel 1; Salmos 18,11), e os seragins, que têm seis asas (Isaías 6,2).

Depois do Exílio na Babilônia, provavelmente por causa do contato com outras culturas, a crença do povo judeu nessas figuras aumentou consideravelmente. A trascendência divina aumentou sobremaneira, mas a sua ação no mundo continuava graças à intervenção dos anjos, como figuras intermediárias.

São particularmente presentes no livro de Daniel, onde agem como potentes forças intermediárias, que têm um nome. Existem arcanjos, anjos da guarda, anjos dos povos e outros milhares que estão em volta do trono divino (veja Daniel 4,10-14; 7,10; 8,16; 9,21; 10,5s; 12,1).

 

Anjos no Novo Testamento

“Anjo” (em grego “angelos”) aparece 175 vezes. Só no Apocalipse aparece 67 vezes. Como no Antigo Testamento, também aqui eles são representantes do mundo divino e mensageiros de Deus. Jesus, sendo Deus, é acompanhado por anjos (Mateus 1,20; Lucas 22,43, etc). Jesus é colocado acima dos anjos (Marcos 13,27; Filêmon 29).

A ideia do anjo da guarda aparece em Mateus 18,10, onde se fala do amor divino pelos pequenos, e também em Atos dos Apóstolos 12,15.

 

Anjo de Deus

Esse título mereceria um capítulo a parte, visto que aparece como um personagem celeste mandado por Deus aos homens como seu mensageiro. Em alguns textos, como em Gênesis, se identifica com o próprio Deus, falando inclusive em primeira pessoa (com Agar - Gênesis 16,7; com Abraão – Gn 22,11; com Jacó – Gn 31,13; com Moisés – Êxodo 3,2; com Gedeão – Juízes 6,11).

No Novo Testamento poderia ser identificado com o Arcanjo Gabriel (Lucas 1,19).