Atos dos Apóstolos 2 conta que quando desce o Espírito Santo sobre as pessoas que estavam em Jerusalém, "todos começaram a falar em outras línguas" (v. 4). Mais adiante (v. 11), Lucas conta que os que ali estavam ouviam "apregoar em nossas próprias línguas as maravilhas de Deus".
Como interpretar essas "diferentes línguas", a capacidade de falar e de entender em diferentes línguas?
O mistério não está na mensagem que é anunciada, pois claramente é dito que os apóstolos falavam das "maravilhas de Deus", provavelmente da Boa Nova, da ressurreição de Cristo. A maior novidade está no fato que todos entendem. Portanto, a diversidade de língua é a novidade trazida pela ressurreição. Não só a diversidade, que sempre existiu, mas a possibilidade de entender o que se diz nas outras línguas. Esse é o verdadeiro milagre provocado pelo Espírito.
Isso não significa que o Espírito automaticamente nos faz entender línguas que não conhecemos. Não é esse o sentido. Para entender o verdadeiro sentido desse texto é preciso recordar uma passagem de Gênesis: a torre de Babel, em Gênesis 11. Nesse texto aparece evidente que a multiplicidade de língua é uma consequência do pecado, uma maneira que Deus encontrou para que os homens não ousassem ser "deuses", chegar até o céu. Falando várias línguas não conseguiam se entender e o projeto de construção da torre deu errado.
Em Babel "Yahweh confundiu a linguagem de todos os habitantes da terra e foi aí que ele os dispersou sobre toda a face da terra".
Em Atos acontece o contrário. Poderíamos dizer que encontramos aí uma reparação do que sucedeu em Gênesis 11: Os homens se reúnem em Jerusalém e as várias línguas não são mais um problema, mas todos entendem as maravilhas de Deus, sem buscar o próprio interesse, sem querer ser Deus.