O "Status" de santo na igreja católica é o cúlmine de um processo burocrático que dá a certas pessoas, que viveram de maneira exemplar a fé em Deus, esse título. As pessoas que viveram no Antigo Testamento, como aquelas que você menciona, não foram declaradas santas através de um processo, assim como não são declarados santos pessoas que não pertencem à igreja.
Mesmo do ponto de vista católico, a santidade, obviamente, não se limita àqueles que receberam tal título do Vaticano, mas está presente também em pessoas que não passaram por tal processo. Nada impede que elas sejam tratadas como santos, embora não tenham, por exemplo, uma liturgia própia no calendário litúrgico.
Já tratamos desse tema em outra ocasião. O que poderíamos sublinhar dessa vez é o aspecto bíblico, a qualidade de "santo" e propor um convite ao diálogo entre a teologia católica e aquela protestante.
Perspectiva bíblica
A Bíblia está cheia de "santos" no sentido de que os homens e mulheres a quem Deus deu graça e que creram na mensagem divina são qualificados, sem modéstia ou reserva, como "santos" (Atos dos Apóstolos 9,13; Romanos 8,27 e 26,2; 1Coríntios 1,2; Colossenses 3,12). Esta conotação derivava do estatuto da pessoa que, pela graça de Deus através da fé, viu uma mudança radical na sua relação com o Deus: de uma relação marcada por uma atitude contrária para uma marcada pelo restabelecimento de uma aliança de amor. Deus declara "santos" aqueles a quem deu uma nova vida, exortando-os a viver em santidade com base nessa atribuição de santidade. Quando se lê na Bíblia a referência aos "santos" estamos diante de simples pessoas que abraçam a Cristo e renascem no Espírito. Esta é a dimensão que permite chamar "santo" todo verdadeiro cristão. Além disso, quando se lê na Bíblia o mandamento de "santificar-se a si mesmo" (1Tessalonecenses 4,3-8), para prosseguir no caminho da "santificação" (Efésios 4,24), entende-se como sendo dirigido a todos os que crêem, que são encorajados a progredir sempre mais na fé, a crescer, a perseverar num caminho de santidade ao qual Deus os chama. Esta é a dimensão progressiva da santificação pela qual o Espírito Santo age em nós, fazendo-nos amadurecer nos caminhos de Deus e fazendo com que os santos sejam cada vez mais o que já são.
É evidente que nem todos os santos estão na mesma posição com relação ao caminho da santidade, mas isso não significa que o título de santo não pode ser estendido a todos eles.
Pensando em um diálogo teológico
A veneração dos santos é um dos temas que têm estado no centro da controvérsia secular entre católicos e protestantes. No imaginário evangélico, engrossado por séculos de diatribes e até de perseguição, o culto dos santos é a metáfora que resume o que é o catolicismo, o receptáculo do que se diz ser o "paganismo" do Vaticano filtrado na prática espiritual. Na linguagem popular da apologética que muitos católicos ainda usam e na qual muitos evangélicos se identificam com certo orgulho, uma das frases que resumem o sentido do ser protestante em relação ao catolicismo é precisamente que "os evangélicos não acreditam nos santos ou em Nossa Senhora". A referência a este tipo de agnosticismo evangélico exprime de modo questionável, mas muito claro, a posição tomada contra uma prática que, no âmbito evangélico, é percebida como absolutamente estranha ao Evangelho e que, no âmbito católico, é considerada como intrinsecamente ligada à religião cristã.
Portanto, a veneração dos santos é um dos "pontos quentes" da demarcação entre a fé católica e evangélica, tanto no plano teológico-doutrinal como no plano devocional. Se o foco for ampliado para questões imediatamente conectadas, como o culto mariano e a veneração das relíquias, o sentido de estranhamento evangélico torna-se ainda mais rígido, mas apenas confirma a idiossincrasia básica que o mundo evangélico sente em relação ao universo de fé em que se coloca a veneração dos santos.
Aceitar um diálogo sobre esta questão obriga-nos, portanto, a lidar com um passado que está longe de ser pacífico e com um presente que tende a ser turbulento. Se este é o pano de fundo histórico e o cenário de referência atual, que sentido pode ter um diálogo se não a repetição da antiga e enraizada controvérsia? Para que o diálogo não seja simplesmente um modo gratuito de falar sobre questões de interesse religioso, é necessário fazer algumas considerações preliminares que coloquem o esforço do diálogo numa perspectiva de clareza e de escuta recíproca das respectivas razões. No diálogo, há que pôr de lado, na medida do possível, abordagens que, embora aparentemente distantes uma da outra, são prejudiciais para a fecundidade do confronto. O primeiro impasse a evitar é pensar que a veneração dos santos é um aspecto teologicamente marginal do confronto entre católicos e evangélicos, um tema menor do que, por exemplo, a justificação pela fé, para citar um que foi objeto de um longo diálogo ecumênico. Na realidade, a reflexão sobre o assunto obriga-nos a aceitar os nós centrais da razão de ser do catolicismo e do protestantismo e a razão de ser da sua diversidade. A veneração dos santos é tão tipicamente católica e, ao mesmo tempo, tão tipicamente não evangélica a ponto de constituir um espelho no qual ambas as orientações são plenamente refletidas, em toda a força de sua particularidade.
Um diálogo fecundo respeita a diversidade entre as partes, tal como foi estratificada no tempo para a pôr em causa e também com a intenção de escutar atentamente as razões do outro em nome da "mansidão" e do "respeito". Não ajuda iludir-se sobre o fato de que a diatribe está ultrapassada ou relativizar sua importância. Com esta disposição aberta à interação e ao mesmo tempo consciente do que está em jogo, talvez o confronto possa ser um instrumento nas mãos de Deus para alcançar metas infinitamente maiores "do que aquilo que pedimos ou pensamos". Outras estradas que parecem encurtar a rota podem revelar-se atalhos que levam a um beco sem saída. É, pois, necessário assumir o fardo de um confronto sério, franco e amigável, consciente da complexidade dos problemas e da gravidade da questão.