Essa história se encontra em 2Samuel 6, quando é contato como Davi introduziu a Arca da Aliança na cidade de Jerusalém. Particularmente 2Samuel 6,16 diz:
Quando a arca de Javé entrou na cidade de Davi, Micol, filha de Saul, estava olhando pela janela e viu o rei Davi pulando e dançando diante de Javé; por isso, o desprezou no seu íntimo.
Notamos que Micol era filha de Saul, que foi o primeiro rei de Israel, a quem Davi substituiu. Fora dada em casamento a Davi em 1Samuel 18 e, em seguida, protege o novo rei da perseguição do pai, ajudando-o a escapar (1Samuel 19,11 seguintes). Mais tarde, como Davi tinha fugido, ela foi dada em esposa a outro homem (1Samuel 25,44), mas Davi a exigiu novamente para si, como lemos em 2Smuel 3,13).
No fundo, Micol foi uma mulher usada. Não sabemos bem se foi historicamente assim ou se o autor da história deuteronomística a usa como elemento da sua trama. Ela amava Davi e seu sentimento parece ser íntegro. Ajuda, no início ao plano divino que queria Davi como "o rei" de Israel. Nesse texto que lemos, ao invés, parece que cai e não lembra mais daquele amor inicial, de entrar na história seguindo a vontade de Deus, que era a de que seu marido introduzisse na cidade santa a Arca. É quase um retorno à vontade do seu pai, Saul, que a deu como esposa a Davi simplesmente para tentar impedir que os planos divinos se realizassem.
A tristeza de Micol pode ter esse significado de frustração pessoal, de trauma vivido por essa mulher "usada" por pessoas que buscavam simplesmente o próprio interesse e a tratavam como um mero instrumento. No início demonstrou autonomia, fidelidade ao plano divino, mas no final cedeu e não conseguiu reconhecer o percurso divino da história.
Com certeza é também, da parte do autor, uma maneira de deixar para trás qualquer recordação positiva de Saul, que era o pai de Micol. Não é claro o mal de Saul, mas para o autor sagrado não soube dar a vez a Davi, o escolhido por Deus.