A pergunta completa traz o seguinte texto:
Uns dizem que a Bíblia fala que as pessoas que morrem entram em sono profundo e serão acordadas por Deus, no dia do juízo final, todas de uma vez, quando será separado "o joio do trigo". Mas, como saiu da própria boca de Jesus quando estava na cruz, ao dizer para o ladrão crucificado com ele: "ainda hoje estarás comigo no paraiso", gostaria de saber o que diz a bíblia. Iremos ter um julgamento imediatamente após a morte ou isso se dá em outro momento?
A morte é infelizmente é uma realidade humana pela qual todos um dia passaremos. Ela é fruto das escolhas humanas, pois Deus nos criou para a eternidade. O pecado nos deixou prisioneiros dessa realidade, da qual nos liberou gratuitamente Jesus, dando-nos a Vida Eterna. Essa vida futura, que para nós é um mistério, começamos a vivê-la aqui e agora, graças à nossa adesão à mensagem do Senhor, através de uma vida coerente, de um caminho de santificação (veja 1Tessalonicenses 4). Mas sei bem que esse princípio de fé não basta para dissipar nossas dúvidas sobre a vida depois da morte.
O Juízo
Em Mateus 25 lemos Jesus dizendo que "quando vier na sua glória" fará o juízo: "separará os homens uns dos outros, como o pastor separa as overlhas dos bodes (...) Então dirá aos que estiverem à sua direita: "vinde, benditos de meu Pai, recebei por herança o Reino preparado para vós desde a fundação do mundo" (Mateus 25,31-34).
Paulo, em 2Coríntios 5,10, também lembra que seremos chamados diante do tribunal de Cristo:
a fim de que cada um receba a retribuição do que tiver feito durante sua vida no corpo, seja para o bem, seja para o mal.
Alguns teólogos falam de um juízo individual, que será acompanhado de um juízo universal, com a presença de toda a humanidade.
Todas essas situações, para nós cristãos, se resume na certeza que se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, Deus há de levar-nos em sua companhia (1Tessalonicenses 4,14).
O tempo e o espaço
O elemento predominande da sua pergunta é a cronologia, a tentativa de entender o que acontece depois da morte até que se realize o Juízo Universal. Sinceramente confesso que é uma questão que me faz tanto refletir. Não porque estou preocupado com aquilo que acontecerá comigo pessoalmente, mas em razão da dificuldade da teologia em propor uma solução.
Nós modernos não sabemos viver na dúvida; queremos respostas. É tarefa dos teólogos tentar dar essa resposta. Nesse sentido, penso que existe muita estrada a ser percorrida. Também sou meio teólogo e então acredito que tenho uma parcela de culta nesse fracasso. Isso me impele a propor dois pontos para a reflexão.
1) o mistério não deve ser completamente explicado. Nós não conseguimos viver na dúvida; e a vida eterna, embora tivesse que ser uma certeza para nós cristãos, é algo que não nos convence completamente, pois não sabemos como será, aonde será, etc. O Mistério, entendido como realidade divina, não pode ser revelado uma vez por todas. Como disse Paulo, hoje vemos como num espelho (e no tempo do apóstolo os espelhos não refletiam como hoje!), de maneira confusa, mas depois veremos face a face (1Cor 13,12). O mistério se desvela: tiramos um véu de sobre essa realidade, mas são véus sobre véus e cada vez descobrimos outras realidades desse mistério, sem terminar nunca de nos surpreender. Portanto, não precisamos nos deixar sufocar pela determinação de ter que saber tudo. Temos que ter uma fé que busca a compreensão, que procura entender o que Deus quer para nós e ter consciência que o entenderemos aos poucos, de maneira progressiva.
2) as categorias nossas não são aquelas divinas. O espaço e tempo são dois elementos que condicionam a nossa vida e toda nossa reflexão, também aquela inerente à vida depois da morte. Jesus ressuscitado pode nos ensinar alguma coisa: ele aparecia, desaparecia... estava em um lugar e depois aparecia em outro. Isso é uma característica típica da vida eterna, na qual estava Cristo. O tempo também, na eternidade, não será como o nosso. Visto que de eternidade estmaos falando, não existirá um "antes" e "depois", duas categorias do nosso mundo. Penso que na eternidade será um constante "agora", um tempo indivisível. Por isso o tempo depois da morte não deve ser visto como uma cronologia, onde os anos seguem um depois do outro. E assim não há porque perguntar por "quanto tempo passará até que..."
Sei que não é fácil de entender - e nem de explicar. Mas é provável que tenhamos que renunciar às nossas categorias de espaço e tempo - coisa praticamente impossível - para refletir sobre a vida depois da morte. A nós cristãos resta a chamada a ter certeza que Deus tem preparada uma morada para nós e que estaremos ao seu lado, para a eternidade.