Em Mateus 24,3, os discípulos perguntam a Jesus quais serão os "sinais" do "cumprimento do tempo sem fim" (uma expressão geralmente traduzida como "fim do mundo"). Jesus responde enumerando uma série de acontecimentos catastróficos que anunciarão sua "presença" (em grego: parousia) e, portanto, o início da eternidade. Também em Marcos 13 e Lucas 21 encontramos esta linguagem, assim como no último livro do Novo Testamento, o Apocalipse, outro grande afresco de enorme impacto emocional. Esta linguagem tem raízes muito antigas, tanto dentro da Bíblia (há "apocalipses" em Isaías 34-35; 63,1-6; 24-27; Ezequiel 38-39; Zacarias 9-14; Daniel 7-12) como na literatura extra-bíblica (por exemplo, os livros apócrifos do Antigo Testamento tais como os "Testamentos", o livro dos Jubileus, o livro de Enoque, e muitos outros) e recebeu a identificação de "literatura apocalíptica", um "corpus" de escritos produzidos entre o século V a.C, e o século I d.C. que é delineado como um verdadeiro gênero literário.
Janela aberta sobre o mundo de Deus
O termo "apocalipse", erroneamente inserido em nossa linguagem comum para expressar uma catástrofe, indica a "revelação" de algo escondido, a "revelação" do resultado final da história, ou seja, a realização dos planos de Deus. Tem uma estreita relação com a profecia: o profeta/vidente "vê" na história e nos acontecimentos, a palavra de Deus para os homens. No entanto, a linguagem com que ele exprime a mensagem divina muda radicalmente: exprime-se em símbolos, muito mais adequados do que simples conceitos para dar a ideia do indizível e inexprimível que é próprio do mundo de Deus. Animais, números, cores, o mundo humano e a natureza tornam-se códigos que devem ser decifrados, e mesmo a linguagem em que a mensagem é expressa apresenta frequentemente algumas estranhezas: não conhecemos, talvez, o fenómeno dos "neologismos", por vezes bastante bizarros, criados para dar uma melhor ideia do que queremos dizer? Não recordamos das estranhas "licenças" gramaticais com que os poetas se expressam?
Os textos apocalípticos nascem em períodos históricos particularmente dramáticos, em que o medo da perseguição, o desencadeamento de guerras, o sentimento de precariedade e fragilidade da vida face às grandes convulsões da história tornam difícil permanecer fiel a Deus e à sua Aliança. Neste sentido, os textos apocalípticos são mensagens de esperança, convites à perseverança confiante: "o mundo e a história são considerados como a área em que o bem e o mal, anjos e demônios, matéria e espírito, oprimidos e opressores colidem". O confronto entre estes polos opostos vai no sentido de uma mudança que acontecerá "em breve", com o juízo definitivo de Deus.
Cada elemento do discurso apocalíptico visa, portanto, revelar como Deus está dentro dos acontecimentos da história. Através das palavras simbólicas do profeta/vidente, os fiéis, vítimas da injustiça, desorientados pelo triunfo do inimigo e quase deixando-se vencer, podem "ver" o sucesso final de Deus sobre os opressores e o maligno, e serem finalmente consolados.
Vitória junto com o Ressuscitado
No Novo Testamento, o "apocalipse" de Marcos, Mateus e Lucas e o próprio livro do Apocalipse de João se encaixam nesse mecanismo. Nos Evangelhos, a destruição do templo (colocada em relação com a morte de Jesus em João 2,21) marca a viragem para uma ordem radicalmente transformada, descrita graças a uma imagem apocalíptica muito querida pelos profetas: "o sol escurecerá, a lua não dará mais a sua luz, as estrelas cairão do céu e os poderes que estão nos céus serão perturbados": o que Deus criou para iluminar o dia e a noite, para medir o tempo e determinar o momento no qual celebrar suas festas, a realidade mais estável e sólida que o homem conhece, o céu, todo o "mundo" das certezas humanas muda sob a ótica da perspectiva de Deus; poderíamos dizer que através da linguagem apocalíptica Deus compartilha seu olhar para que todos vejam tudo como ele o vê.
A última revelação bíblica, o livro do Apocalipse, abre à visão da vitória do Ressuscitado diante da qual os seus fiéis, refrescados, veem os sofrimentos, as perseguições, a força esmagadora do mal e suas múltiplas formas (Babilônia e seu "sistema") como um chamado para ativar sua capacidade de discernimento e sabedoria para reconhecer o mal, invocá-lo e superá-lo com ele.
Esse é o fim do mundo, isto é, a meta do mundo. Portanto, a Bíblia fala do “fim” como de uma meta a ser alcançada, que é a realidade da vitória final de Cristo, e não como uma catástrofe. Portanto, segundo a literatura apocalíptica, o fim do mundo acontece somente quando se reconhece a potência de Deus que o governa.