A história de Saul, o primeiro dos três reis que governaram a Israel de maneira unida, se encontra na Bíblia a partir de 1Samuel 9 e suas “aventuras” prosseguem até o final desse livro, com a sua morte contada em 1Samuel 31.
Saul inaugura a monarquia em Israel e o historiador bíblico não vê tudo isso com bons olhos: o povo pede a Deus um rei “como as outras nações” (1Samuel 8,5). Até aquele momento, o povo confiava plenamente na justiça do Senhor, no seu “governo”, através dos juízes. Agora um rei e chamado para “exercer a justiça” entre o povo (1Samuel 8,6). A coisa desagradou a Samuel, que porém foi encarregado por YHWH para escolher e ungir Saul (1Sam 10).
O início da monarquia não é simples para Saul. Quase parece que queira fazer tudo bem, mas dá tudo errado. Quer oferecer um sacrifício ao Senhor, para poder combater bem contra os filisteus, pois Samuel demorava, ao invés é uma ação que será condenada pelo profeta do Senhor (1Samuel 13,13-14):
“Agiste como insensato! Tu não guardaste o mandamento que Iahweh teu Deus te prescrevera. Se lhe tivesses obedecido, Iahweh teria firmado o teu reino para sempre sobre Israel, mas agora, o teu reino não subsistirá”.
Mesmo assim, Saul continua fazendo as batalhas contra os inimigos de Israel. Será em uma dessas, aquela contra os Amalecitas, contada em 1Samuel 15, que Saul cometa um grande erro: desobedece ao mandamento dito “anátema”, isto é, o voto de oferecer a Deus todos os bens que forem conseguido graças à vitória em uma batalha. Saul guardou poupou Agag e tudo o que havia de melhor dos amalecitas, que foram derrotados. A palavra de Samuel chega logo em seguida (1Sam 15,19):
“Por que não obedeceste a Iahweh? Por que fizeste o que é mau aos olhos de Iahwheh?”
Saul pede perdão, reconhece o pecado, mas a graça do Senhor já estava sobre Davi, o futuro rei de Israel.
Saul diz que tomou o que os Amalecitas tinham de melhor para sacrificar ao Senhor. Mas não tem jeito: mais importante do que o sacrifício é a obediência aos mandamentos.
A sequência dos capítulos de 1Samuel contam a escalada do jovem pastor, Davi, ao trono de Israel. Ungido por Samuel em Belém (capítulo 16), passará os próximos capítulos em conflito com o rei Saul, vivo, mas já sem poder.
É provável que o que a Bíblia diz sobre Saul não seja uma história muito bem contada, do ponto de vista historiográfico. Ela é influenciada pela figura emblemática de Davi. Para ressaltar o seu valor, Saul é diminuído e apresentado como um rei que inaugurou a monarquia, mas que não esteve à altura da posição.