A desgraça acontecida em Jerusalém, quando cai uma torre e mata 18 pessoas, é lembrada somente por Lucas 13,4. Não há nenhuma outra referência na Bíblia sobre essa torre e nem sobre esse evento trágico. Ao invés, é bem conhecida a piscina de Siloé. Na verdade era mesmo um reservatório de água, situado abaixo do Templo, dentro da Cidade Antiga (hoje fica fora dos muros de Jerusalém). Trazia água de fora da cidade, do riozinho chamado "Giom", através principalmente do canal cavado por Ezequias, cavado cerca de 700 anos antes de Cristo, de maneira que o povo pudesse ter água mesmo se a cidade fosse sitiada pelos inimigos.

Esse reservatório aparece diversas vezes na Bíblia: Isaías 8,6 menciona as suas águas e o mesmo profeta (22,9) alude à construção do túnel de Ezequias. Nos Evangelhos, a passagem emblemática se encontra em João 9, que conta a cura por parte de Jesus de um cego de nascença.

Diante de tais considerações, é provável pensar que nas imediações desse reservatório existissem construções e a queda de uma delas tenha provocada a tragédia mencionada por Lucas 13.

 

Como interpretar Lucas 13,1-9

Lucas menciona esse evento não para dar uma notícia de crônica, mas para transmitir uma mensagem. Ele quer falar primeiro de tudo da conversão e também da misericórdia de Deus.

Junto com a notícia da torre, nos versículos 1 e 2 alguns contam para Jesus sobre um massacre feito pela polícia romana na Galileia, matando diversas pessoas enquanto ofereciam sacrifícios a Deus. Como, no caso da caída da torre, também esse evento é desconhecido.

As pessoas que falam com Jesus apresentam o caso esperando uma sua resposta. Querem saber o que Jesus pensa sobre a persecussão desencadeada pelo domínio romano na Palestina, o que pensa sobre esses galileus, provavelmente revolucionários contrários à Roma, sobre a razão dessa desgraça.

Todavia Jesus, embora dê um juízo negativo sobre os dominadores do mundo (veja Lucas 22,25), responde convidando o seu auditório a dar um salto de qualidade em sua reflexão: discute sobre qual é a causa do mal:

Pensam vocês que esses galileus, por terem sofrido tal sorte, eram mais pecadores do que todos os outros galileus? De modo algum, lhes digo eu. E se vocês não se converterem, vão morrer todos do mesmo modo (Lc 13,2-3).

A resposta de Jesus se dá em nível de fé e de conhecimento de Deus. Se quiséssemos traduzir com palavras nossas, Jesus está dizendo:

Vocês pensam que o pecado feito pelo ser humano automaticamente traz o castigo de Deus. Mas não é assim! Dessa maneira vocês dizem que Deus é perverso.

Jesus conhece bem nosso caráter e sabe que cada vez que acontece uma tragédia ou se manifesta o mal aflora o nosso senso de culpa, que temos no nosso profundo. Isso acontece quando estamos diante de um fato dolorido, uma doença, etc. Não é verdade que nos perguntamos: "que fiz de mal para merecer isso"? Como defendeu Dostoevskij no seu "Delito e Castigo", diante de um delito, diante do pecado, esperamos sempre que venha a pena, o castigo...

Para destruir a imagem de Deus que castiga, muito comum também entre nós, ele mesmo menciona o fato dos 18 que morrem embaixo da torre desmoronada:

Aqueles dezoito que morreram quando a torre de Siloé caiu em cima deles? Pensam vocês que eram mais culpados do que todos os outros moradores de Jerusalém? De modo algum, lhes digo eu. E se vocês não se converterem, vão morrer todos do mesmo modo (Lc 13,4-5).

Jesus, em poucas palavras, ensina com essa passagem que a vida é precária, marcada pela violência, pelo mao e pela morte. Deus não está por trás dessa situação, como alguém que castiga e condena, pois ele eventualmente fará isso só no Juízo Final, no momento da nossa morte. A nossa vida aqui na terra não está sob o domínio da onipotência divina, mas em nossas mãos.

As desgraças que acontecem são, em todos os casos, um sinal daquilo que acontecerá conosco mesmos se não nos convertermos, pois quem caminha no mal, encontrará a morte e, por consequência, encontra por si mesmo o mal já aqui na terra e também no juízo final. Por isso, Jesus convida a mudar de vida, à conversão.