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Dedicamos o dia para visitar os lugares do nascimento da cidade Jerusalém, que surgiu aonde moravam os jebuseus, local conquistado por Davi, tomando então o seu nome: cidade de Davi. Esse é o lugar que uma vez era apenas uma colina, ali onde Abraão teria sido convidado por Deus para sacrificar o seu único filho. A fé de Abraão, além de suscitar a misericórdia divina e poupar a vida do filho Isaqie, fez com que esse se tornasse o centro da fé dos judeus. Salomão construiu ali o primeiro templo, imponente, com o Santo dos Santos. Essa construção foi destruída pela Babilônia, cerca de 400 anos depois. Quando os judeus voltaram do Exílio, foi construído o segundo templo, que provavelmente era bastante modesto. Ele foi majestosamente engrandecido pelo Rei Herodes, que deu à “esplanada do Templo” a forma que conhecemos hoje, onde se encontra o Monumento da Rocha e a Mesquita de Al Aqsa, junto com o que chamamos erroneamente de “Muro das Lamentações”. Os judeus chamam simplesmente “muro” (Qotel). O Templo de Herodes foi aquele conhecido por Jesus, com todas as dinâmicas que bem conhecemos graças aos evangelhos.

 

Começando a “viagem”

Começamos o nosso dia com uma caminhada bonita. Saímos do nosso hotel, na zona do nosso quarteirão Mamilla e fomos na direção da Porta de Jafa, que dá acesso à cidade velha de Jerusalém. Dali, descemos até chegar na entrada da praça que fica diante do Qotel (Muro das Lamentações). Como hoje era quinta-feira, pudemos ver várias famílias que festejavam o Bar Mitzva do próprio filho. É uma festa que se faz quando o filho homem faz 13 anos e um dia. Esse é o primeiro dia que pode ler em público a Torá e, do ponto de vista religioso, termina a responsabilidade dos pais em relação a ele. Há correntes dentro do judaísmo que hoje aceitam também a Bat Mitzva, ou seja, a mesma festa dedicada às meninas.

Deixamos o Muro das Lemantações para trás e saímos pela Porta do Esterco, descendo para o Vale do Cedron. Toda a área que vai da zona do Templo até esse vale, aonde até pouco tempo atrás viviam principalmente árabes, está passando por grandes transformações. Esse vale é muito importante porque ali se encontra a Fonte de Gihon, que é a única fonte que dá água em Jerusalém. Por isso sempre foi um lugar estratégico, em todos os períodos históricos. Ali nesse local se encontra também a Piscina de Siloé, citada também nos evangelhos. Aos poucos, os judeus estão transformando toda a zona em um Parque Arqueológico. Essa foi a nossa principal visita de hoje.

Na verdade, não se sabe bem o que ali existe, o que está vindo à tona com as escavações. É evidente que a estrutura para trazer a água para dentro dos muros de Jerusalém é a coisa que mais impressiona. Há muitas ruínas de eventuais palácios que poderiam ser de Davi, mas tudo isso não é fácil de provar.

Em relação às estruturas hídricas, em 1867 foi descoberto por Charles Warren um túnel construído pelos cananeus, 1800 anos antes de Cristo, que tinha como objetivo trazer para a cidade a água da única fonte que existia nas redondezas, mas que estava fora dos muros da cidade. Percorremos esse canal, que vai paralelo ao túnel cavado por Ezequias, citado na Bíblia. Esse ainda hoje contém água. É possível percorrê-lo, mas, nesse caso, precisa ser mais jovem e ter coragem e uma lanterna, pois é necessário percorrer cerca de 500 metros dentro da água. Fiz isso quando era mocinho, na década de 90. Esse túnel cavado por Ezequias levava a água da fonte de Ghihon (fora da cidade) até a Piscina de Siloé, que ficava dentro da cidade. Em caso de assédio, a cidade podia contar com água, fonte de vida.

Faz parte desse enorme recente parque arqueológico toda uma outra área que fica aos pés do imponente muro da esplanada do Templo, onde fica o famoso pináculo do Templo, de onde o demônio teria convidado Cristo a se jogar, em uma das três tentações. Essa zona é conhecida como Área arqueológica Davidson, uma homenagem ao doador que financia todas as escavações já realizadas e que atualmente estão fazendo. É um lugar que havia visto muitas vezes da estrada, de longe. Agora é possível entrar e subir a famosa escadaria que chega até a grande muralha, a poucos passos do pináculo, a parte mais alta do muro. O sol estava muito quente, mas é uma experiência única e inesquecível. Nos degraus daquela escada provavelmente muitas vezes passou Jesus. De fato, em alguns mapas que reproduzem a zona no tempo de Cristo existe um ponto dessa escada indicado como “lugar dos sábios”, dos rabinos.

Toda essa área está sob a jurisdição do ente “Israel National Parks And Nature Reserves”. É possível comprar um bilhete que dá acesso a todos os parques e que pode ser usado durante um período de 14 dias. Nos compramos um desses ingressos, mas infelizmente não vale para essa área de Jerusalém.

Com todas as escavações que realizam naqueles locais, é provável que teremos futuras descobertas relacionadas com a vida do hebreus e a história bíblica.

 

 

Túnel do qotel

Outra experiência inédita foi a visita ao assim dito “Túnel do Muro”. É necessário reservar antes a visita, pela internet. Mesmo fazendo isso há mais de um mês, conseguimos somente a guia em espanhol. É uma experiência única. E a coisa mais espetacular é poder tocar as pedras do muro. A parte “pública”, dita “Muro das Lamentações” é uma pequena porção de todos os muros realizados durante os séculos. É um labirinto de passagens e em alguns pontos parece que se aproxima bastante do local do Santo dos Santos, o lugar central do Templo. É possível chegar também a um ponto onde se encontra a rocha original da colina sobre a qual foi construído o lugar sagrado.

É uma viagem no tempo, imperdível e única. É claro que tudo isso é feito movido pelo interesse judeu de conquistar o máximo que se pode da área do templo, que atualmente é praticamente toda, na parte externa, sob o controle dos muçulmanos. Apesar desses conflitos, nós acabamos ganhando, pois recuperou-se elementos arqueológicos únicos da humanidade.

 

Resto do dia

No final da visita, saímos bem na frente da Flagelação, convento franciscano sede do famoso Instituto Bíblico. Eram quase duas da tarde. Hora de comer, logicamente. A escolha hoje caiu em um restaurante armênio, que fica dentro da 4 estação da Via-Sacra.

Depois era hora de voltar pro hotel, passando pela porta de Damasco e subindo ao longo do muro, próximo do famoso hotel Notre Dame.

De tardezinha, fomos recebidos pelo Frei Jean no Convento de São Salvador, que é o centro da Custódia de Terra Santa, dos freis franciscanos, que há 800 anos cuidam dos lugares santos.