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Durante esse dia continuamos nossa peregrinação pelas ruas de Jerusalém, visitando especialmente o Vale da Geena e o Monte Sião.

 

Um ano bom, doce e próspero

Hoje é ano novo aqui em Israel: Rosh Hashaná (cabeça do ano). O calendário judaico começa o ano 5780. Desde ontem, com o pôr do sol, está tudo fechado e os transportes públicos não funcionam. E será assim até amanhã, quando o sol se por. É interessante essa experiência de festa: poucos carros nas ruas, gente indo para as sinagogas, cantos e orações no Qotel (Muro das Lamentações), crianças brincando nas praças... Nós, ao invés, não conseguimos mais parar e o domingo se tornou um dia como outro. Não é um mero moralismo, mas só a partilha de uma experiência que vivemos aqui hoje.

O povo aqui, para essa festa, se veste de maneira elegante. E nas refeições que fazem não pode faltar a romã, que nesse tempo se vê em todo lugar, e nem a maça inundada no mel para desejar um ano bom, doce e próspero: Shanah tova u’metukah!

O ano novo vem com o som do Shofar, feito com o chifre de um carneiro. Levítico 23 fala dessa festa e recorda como “dia do som do Shofar, dia do juízo e da recordação. Conforme a tradição rabínica, Deus tem diante de si livros que recolhem a história de cada ser humano, os quais Ele examina para decidir se a pessoa será perdoada ou não. Todavia, a decisão será definitivamente tomada somente 10 dias mais tarde, no dia do Kippur (festa que acontecerá daqui a 10 dias), dita Festa da Expiação. Assim, os 10 dias que separam o início do ano e o Kippur são dias de penitência, durante os quais cada um precisa refletir sobre a direção que dá a própria vida e converter-se e assim fazer com que Deus o perdoe.

Geena

O destino principal da nossa visita hoje era o Monte Sião. Para chegar lá, descemos Rua Keren haYesod, passando pelo Moinho Montefiore (nome do filantropo Moisés Montefiore que em 1857 construiu todo o bairro que se estende em frente aos muros ocidentais de Jerusalém), descendo novamente pela Rua King David no Liberty Bell Park. Como já fazia calor, paramos em uma deliciosa praça rodeada de árvores, com uma fonte decorada com grandes leões no meio, e depois continuamos até a Hebron Road, que vai para Belém, e chegamos no Vale de Hinnom, a antiga Geena.

Vendo esse local hoje, com as suas amplas áreas verdes, os seus jardins, palcos para espetáculos, as oliveiras, é preciso ter muita imaginação para evocá-lo como um lugar de desespero e condenação. Um antigo lugar de sacrifício para crianças (contra o qual o profeta Jeremias levantou a voz, em 7,31), Geena, localizada logo abaixo do antigo bairro nobre da antiga Jerusalém, recebia todo tipo de lixo que era jogado de cima para baixo. Frequentes eram a queima desse lixo, e o cheiro nauseabundo. Mas não só isso: ao contorná-lo como o fizemos, percebemos sua acústica impressionante, que certamente acrescentou às imagens e cheiros também sons horríveis, como devem ter sido o barulho que faziam os corvos avançando nos restos de lixo ou até mesmo em algum cadáver jogado ali, abandonado por todos. Em suma, algo mais do que uma lixeira, o lugar do desperdício por excelência e da falta de humanidade. É assim que, no tempo de Jesus, se descreve o estado daqueles que se perderam, o "lugar" ao qual estão destinados os que fizeram de suas vidas um desperdício. O vale termina com o chamado "campo de sangue", o lugar da morte de Judas, que atravessa outro vale, do Cedrão, que passa debaixo do Monte das Oliveiras, separando-o da colina do Templo.

 

Monte Sião

Deixando para trás o vale, subimos até o Monte Sião. Na verdade, quando a Bíblia fala de Monte Sião se refere ao Monte do Templo, à Cidade de Davi. A tradição cristã viu na Eucaristia e no Pentecoste, que se realizaram aonde hoje é dito “Monte Sião”, os novos dons de Deus para a humanidade e transferiu para ali essa denominação. Essa transposição vingou também no mundo judeu, pois nos mapas é indicado esse local como “Monte de Sião”. No tempo da Bíblia, esse local era área residencial de pessoas ricas, com casas importantes.

 

Igreja de São Pedro em Gallicantu

No topo da colina, em vez de ir diretamente ao lugar da Última Ceia e à Igreja da Dormição, fizemos um pequeno desvio (algumas centenas de metros). Pouco antes de chegar ao topo, à direita da rua Malki Tzedek, numa pequena descida, há uma igreja muito cara à tradição cristã, a de São Pedro em Gallicantu, na qual se recorda o choro de Pedro ao cantar do galo, na noite em que ele negou Jesus três vezes. Ali estaria a casa de Caifás, o sumo sacerdote, que na noite anterior à crucificação submeteu Jesus ao interrogatório. A igreja, que está sob a custódia dos Padres Assuncionistas franceses, foi restaurada na década de 90 e o ingresso custa 10 shekels por pessoa. Quem lá chegar encontrará uma zona muito bonita e bem conservada, uma cafetaria, um jardim com uma bela vista do Vale do Cedrão, do Monte das Oliveiras (aonde Jesus foi preso naquela noite) e a esplanada do Templo. Para render o episódio narrado pelos Evangelhos ainda mais concreto, era possível escutar, mesmo às 11 da manhã, o canto dos galos do outro lado do Vale, no bairro árabe de Silwan. A igreja dentro também é muito particular: contém um local tido como prisão de Jesus na quinta-feira santa e uma cisterna profunda, considerada o lugar onde o profeta Jeremias foi jogado (Jeremias 38.1-13).

Esta igreja é uma pequena maravilha entre aqueles que recordam os acontecimentos mais dramáticos da vida de Jesus, um dos que talvez estejam mais próximos de nós, porque, além de recordar a paixão de Cristo, recorda também a experiência de Pedro e, com ele, a nossa, pois ele é “um de nós” e como ele nos damos conta que a nosso seguir a Cristo é sempre insuficiente.

 

Cenáculo

Já era hora do almoço e não deu para entrar na Igreja da Dormição, que recorda o fato que Maria, a mãe do Senhor ali teria dormido definitivamente, tendo sido enterrada no vale perto do Getsêmani. É uma igreja moderna, aonde vive uma comunidade de monges alemães.

Ao lado dessa imponente igreja se encontra o local que recorda a “sala superior”, aonde Jesus celebrou com os discípulos a última ceia e aonde eles estavam reunidos quando sobre eles desceu o Espírito Santo. Não é nenhum lugar especialmente cuidado, pois pertence aos muçulmanos. Os cristãos aqui podem rezar de maneira oficial apenas no dia de Pentecostes. Nos outros dias é possível visitar, gratuitamente. É uma sala bonita, do tempo dos cruzados, com elementos da tradição muçulmana. Na parte inferior desse local há uma outra sala aonde estão os judeus, com um monumento dito “túmulo de Davi”, venerado também pelos muçulmanos.

A tradição que venera essa região como lugar da última ceia é muito antiga. No IV século aqui havia uma grande basílica, dita “Santa Sião”, que foi demolida em 1219. Desde 1333 o local pertencia aos franciscanos, mas em 1552 foram expulsos pelos otomanos e a sala transformada em mesquita. Desde 1967 os judeus permitem a visita a essa sala.

 

Resto do dia

Depois da visita ao Monte Sião, almoçamos no Bairro Armênio. Aqui a comida é sempre muito igual: muita salada, verdura e carne, normalmente assada. Nunca falta um bom suco fresco. É provável que os grupos não pagam tanto, mas se você come individualmente a comida não é tão barata: cerca de 30 dólares para um almoço simples.

Depois do almoço, fomos dar uma volta em cima dos muros, a segunda parte, o lado norte do muro. Entramos na Porta de Jafa e fomos na direção da Porta de Damasco. Era muito calor e descemos já na Porta Nova. É uma visão diferente daquela de ontem, passando sobre o bairro cristão da Cidade Velha. E tudo mais moderno e menos cinematográfico, mas é também uma experiência única.

De noite fomos dar uma volta na Rua Ben Yehuda, que é um calçadão bem popular, no centro da Jerusalém nova. Ambiente agradável, com crianças brincando, poucos pessoas na rua, bares e negócios fechados...

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