Somos influenziados, no bem e no mal, por séculos de tradição teológica e, hoje em dia, nem sempre aceitamos as propostas que vêm da tradição, pois não é fácil se submeter aos pensamentos dos quais não participamos. Hoje em dia é muito mais fácil aceitar o que diz alguém que está ao nosso lado do que uma autoridade ou um pensamento tradicional. Essa é uma realidade típica e discutível do nosso mundo moderno, digitalizado.
Não quero aqui defender, de maneira fanática, a Virgindade de Maria, que é um dogma para os católicos e também uma convicção histórica na tradição eclesiástica, abraçada pelos cristãos ortodoxos. Todavia posso sugerir alguns pontos que podem ajudar a refletir.
- Em Isaías 7,14 encontramos: Eis que a virgem concebeu e dará à luz um filho e dar-lhe-á o nome de Emanuel (confrontar com Mateus 1,23)
- A tradição já no Novo Testamento diz que Maria era uma virgem
- A encarnação é um evento extraordinário, e, nesse contexto a extraordinariedade da virgindade pode bem ser um sinal
- Levar uma vida como "virgem", no ambiente do Novo Testamento, não era necessariamente uma coisa positiva
- Qual é o cerne da questão, quando se discute sobre o valor da mariologia, Maria em si ou os dogmas (maternidade divina, virgindade, imaculada conceição e assunção)?
- Maria é um elemento fundamental para os cristãos; faz parte da essência eclesiológica. Quem sabe, em nome do diálogo, os dogmas possam ser discutidos em um segundo momento.
A propósito de diálogo - é isso que está em jogo, quando falamos do conflito entre cristãos clássicos e evangélicos referente ao tema de Maria - o ideal é que seja respeitada a integridade de quem está diante de si; não se pode ignorar aquilo que o outro é. Portanto, é importante, mesmo não concordando, conhecer as razões e as motivações dos conceitos que o outro, o nosso interlocutor, defente. O ecumenismo, mais cedo ou mais tarde, terá que tratar do tema mariológico.