O Midrash como método de leitura e exegese foi usado pelos autores do Novo Testamento e, sem dúvida estão presentes nos primeiros escritos cristãos. Essa metodologia, que explicamos abaixo, foi usada para proclamar e confirmar o cumprimento das Escrituras na pessoa de Jesus. Nesse sentido, também podemos ver o seu uso na narração sobre João Batista.

 

O que é o Midrash

Midrash vem da raiz hebraica darash, que significa buscar, investigar, estudar, examinar, explicar, interpretar a Escritura. O sentido geral do termo é “busca-procura”. Aplicado à Escritura, significa pesquisar o sentido da Palavra de Deus quanto à teologia e quanto a pratica e, em ultima analise, procurar o próprio Deus em sua Palavra. É, em síntese, um método de interpretação da Bíblia usado pelos judeus.

Não compreendemos muito a sua importância por que para nós a Bíblia é uma palavra escrita. Para os Judeus, ao invés, é uma palavra escrita e também oral. Por isso a interpretação é tão importante quanto o texto. Interpretar a Palavra faz parte da própria dinâmica da revelação divina. É sob essa perspectiva que devemos considerar a importância que os judeus dão a literaturas extra-bíblicas, como a Mishnah e o Talmud, que recolhem as interpretações feitas pelos Mestres judeus, colocadas por escrito nos primeiros séculos da nossa era.

Há muitos tipos dessa interpretação. Alguns abreviam e falam de dois tipos:

 midrash halakah:  palavra que significa “ir, caminhar, andar” e é um gênero da interpretação midráshica que consiste em extrair uma norma legal a partir de uma citação da Escritura.

midrash haggadah:  vem do verbo que significa “narrar, contar, referir”. Gênero da interpretação midráshica realizada sobre narrações bíblicas. 

Mas, para ser mais detalhados se pode falar dos seguintes tipos de interpretação midráschica, segundo uma sugestão de León Muõz (Deras, los caminos y sentido de la palabra, pp. 28-30):

  • Midrash Explicativo: trata-se da interpretação do texto. Em grande parte o Targum, pelo seu caráter homilético, se apresenta com uma forma de midrash explicativo.
  • Midrash Exegético: é uma forma de midrash explicativo que consiste no comentário do texto bíblico em forma continuada, dos versículos selecionados.
  • Midrash Confirmativo: é o recurso à Escritura com finalidades de confirmar um acontecimento. 
  • Midrash Justificativo: embora possua pontos comuns com o confirmativo, seu interesse maior se concentra na busca de um texto bíblico que justifique a posição de um determinado comportamento.
  • Midrash Apologético: trata-se do emprego do texto bíblico para defender uma opinião.
  • Midrash catequético: emprega o texto bíblico com a intenção de extrair os ensinamentos essenciais para a fé e o comportamento humano.


O Midrash no Novo Testamento

Seguindo a sugestão dos tipos de Midrash acima, poderíamos dizer que no Novo Testamento encontramos o midrash confirmativo, pois ele trata de recorrer às Escrituras para confirmar da proclamação da vinda do Messias em Jesus Cristo. Isso passa também pela narração acerca de João Batista. Pois também nesse caso existe uma leitura dos textos bíblicos de tipo confirmativo, por exemplo, em Mateus 11,7-15, quando Jesus louva o Batista, dizendo que era o maior entre os filhos nascidos de mulher, cita um texto de Êxodo 23,20:

Eis que envio o meu mensageiro à tua frente; ele preparará o teu caminho diante de mim.

O mesmo se pode dizer de João 1,23, quando o Batista diz quem é, citando um texto de Isaías 40:

Eu sou uma voz que clama no deserto: endireitai o caminho do Senhor.

Infelizmente é mais difícil de ver a leitura midráshica aplicada à história do nascimento do Batista, contada somente por Lucas. (1,5 seguintes). Lucas é mais narrativo e encontramos pouca interpretação da escritura nesses versículos.

Em síntese, é importante lembrar que o Midrash mais do que um elemento paupável é um método de leitura das Sagradas Escrituras, cujos indícios, sem dúvida, são presentes no Novo Testamento, pois era um método tradicional entre os judeus, como os autores do Novo Testamento. Quando os autores dos livros do Novo Testamento interpretam as Escrituras, o Antigo Testamento, é comum encontramos uma leitura influenciada do método midráshico.