Não é nenhuma heresia. Aliás, sabemos que na tradição judaica é comum algumas regras sobre os alimentos, mas não conheço nenhuma que indique a proibição de misturar esses dois elementos. Além do mais, parece algo pouco provável, pois tanto o azeite quanto o vinho são dois elementos muito comuns na vida quotidiana do ambiente bíblico e, principalmente em momentos importantes, esse dois elementos conviviam e se encontravam juntos nas mesas.

A tradição judaica traz muitas normas sobre os alimentos, conhecidas como "leis de Cashrut". Uma das mais famosas é aquela que proíbe misturar carne com leite.

Não sei o que está por trás de sua interrogação. Às vezes algumas recomendações provém da experiência popular que conhece as contradições que derivam do uso de certos alimentos misturados. Para evitar o consumo e o perigo de alguma congestão ou outro problema, a tradição costumou cunhar alguns princípios e, às vezes, até revesti-los com um teor sagrado. Lembro que, quando era criança, não podíamos misturar jabuticaba com leite. Não sei se era causa de algum problema, mas sei que não era permitido. Também não podeíamos misturar uva com melancia. Outra coisa proibida era comer bolo quente. Talvez eram simples regras para inibir a voracidade da infância e preservar a sobriedade...

 

Azeite e vinho

São dois elementos muito comuns na Bíblia, na vida do povo eleito. São tão importantes que se tornaram verdadeiros símbolos.

Em relação ao azeite, nos livros sapienciais o bom nome é comparado ao azeite: "Mais vale a fama do que o azeite fino" (Eclesiastes 7,1).

No Novo Testamento Jesus, na parábola das dez virgens, compara o amor fiel ao azeite que acende a lâmpada e que não pode ser vendido nem comprado (Mateus 25,3ss).

Na carta de Tiago, os cristãos são convidados a ungir os doentes: "Aquele que está doente, chame a si os sacerdotes da Igreja e deixe-os rezar sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. "(Tg 5,14). Esta unção e oração é o fundamento da unção dos enfermos.

O azeite é o símbolo do amor de Deus (Cântico deos Cânticos 1,3; Salmos 23,5).

O vinho, na Bíblia, é um símbolo de vida, alegria, celebração, amor, embora se sublinhe que o excesso de bebida é prejudicial. 

Nos textos que contam a Última Ceia, nem os Sinóticos nem Paulo usam o termo vinho. Estes textos insistem, ao invés, na palavra cálice, que contém vinho e indica convívio, celebração, gratuidade, sofrimento. Marco também usa a frase "o fruto da videira" que indica o vinho (Marcos 14,25).