É uma pergunta bem elaborada e dá a oportunidade para falar de aspectos importantes da nossa vida de cristãos e também da nossa fé.

 

O povo eleito

Sabemos que toda a Bíblia tem a ver com o povo de Israel: o Antigo Testamento fala da relação do Senhor com ele e Jesus se revela aos judeus. É natural que nasça em nossas reflexões perguntas parecidas com a sua:

Por que Deus escolheu só o povo dos judeus para manifestar a sua glória? E todos os outros povos da terra, que mal fizeram para não conhecer a Deus, as suas maravilhas e principalmente o seu Filho Jesus?

Para responder tais perguntas é necessário entender a lógica da eleição de Israel como Povo do Senhor. 

Deus quis se revelar à humanidade. Para isso, escolheu uma tática particular. Ele poderia se manifestar em toda a sua grandeza e imenso esplendor, quase "forçando" os seres humanos a acreditarem nele. Mas ele preferiu outra forma, para que fossemos livres de aderir ao seu amor, para que nos tornássemos verdadeiros interlocutores, num diálogo autêntico e sincero com ele. Foi por isso que elegeu Israel como seu povo. Veja Deuteronômio 7,7:

Se Iahweh se afeiçoou a vós e vos escolheu, não é por serdes o mais numeroso de todos os povos - pelo contrário: sois o menor dentre os povos!

Ao escolher o povo de Israel, Deus quis dizer, antes de mais nada, que queria estabelecer uma relação amorosa com a humanidade. Em segundo lugar, por esta escolha Deus quis seguir o caminho do testemunho: Israel, de fato, tem a tarefa de ser luz para outros povos. É por isso que Isaías 49,6 lembra aos judeus a Palavra do Senhor:  "Eu vos farei luz das nações, para que tragais a minha salvação até aos confins da terra".

A eleição de Israel não foi revogada. Como escreve São Paulo, "Deus não repudiou o seu povo, a quem escolheu desde o princípio" (Romanos 11,1). Isso nos deveria abrir nossas mentes e corações na relação que temos com os judeus, seja revisando a história passada que as relações interreligiosas.

 

A salvação revelada a todas as nações

Já no Antigo Testamento, principalmente os profetas, muitos se deram conta de que Israel não era o único destinatário das maravilhas do Senhor; esse povo, repetindo, é um instrumento através do qual Deus se revela à humanidade. A escolha de Israel é uma ação didática divina. Todos os povos são chamados a contemplar e seguir a mensagem. Isso se torna evidente com a vinda de Cristo. Com Ele, fica evidente que Deus não pertence de modo próprio a nenhum povo, porque a misericórdia de Deus  "quer a salvação para todos". (1Timóteo 2,4).

A convicção de que essa é a escolha de Deus se incute aos poucos, na igreja nascente, aquela apostólica. É muito interessante ler Atos dos Apóstolos sob essa perspectiva: primeiro o anúncio é dirigido aos habitantes de Jerusalém, mesmo se com a vinda do Espírito era evidente o caráter universal do anúncio. Aos poucos a mensagem se espalha também entre quem não era judeu, começando com o batismo do etíope por parte de Filipe (Atos 8) e depois também com Pedro, que anuncia Cristo ao centurião romano (Atos 10). Depois chega Paulo, que se torna o Apóstolo dos gentios, daqueles que não eram judeus, e leva o Evangelho para fora de Israel, até o centro da potência de então, que era o Império Romano. O capitulo 15 de Atos dos Apóstolos é de suma importância nesse processo, quando se narra o assim dito "Concílio de Jerusalém", onde se discute sobre a Palavra de Deus e os gentios, aqueles que não eram judeus. No seu discurso, Pedro afirma:

Deus deu testemunho em favor dos gentios, concedendo-lhes o Espírito Santo assim como a nós. Não fez distinção alguma entre nós e eles, purificando seus corações pela fé.

 

 

Concluindo

A palavra de Deus é dirigida também aos índios e africanos. Não sabiam da sua vinda, mas essa é a tarefa da evangelização. Como os apóstolos anunciaram a Palavra aos gregos e romanos, ela deve ser anunciada por cada um de nós a quem não a conhece.

Deus não quer que formamos um grupo exclusivo, um grupo de elite. Jesus diz: ide e fazei discípulos de todos os povos (cf. Mateus 28,19). Paulo diz que no povo de Deus, na Igreja, "não há judeu nem grego... pois todos vós sois um em Cristo Jesus" (Gálatas 3,28).