Essa é a pergunta literal que recebemos:

Em Lucas lemos que foi Simão o fariseu que convidou Jesus para jantar. Mateus e Marcos dizem que o jantar foi na casa de Simão. João diz que o Iscariotes era filho de Simão. Então os quatro evangelhos afirmam que o jantar foi na casa de Simão. Parece que o jantar é o mesmo em todos os Evangelhos, mas são duas mulheres diferentes?


Você se refere ao celebre evento da mulher que unge a Jesus. Essa passagem provoca bastante confusão nos leitores da Bíblia. É opinião bastante afirmada que se tratam de dois eventos diferentes: um narrado por Mateus, Marcos e João e outro por Lucas.

Portanto, em síntese, estamos falando de dois episódios diferentes, nos quais intervêm duas pessoas diferentes. É provável que os evangelistas misturam nos dois elementos comuns, mas à base existem dois eventos. Um dos elementos que podem ter influenciado a composição dos evangelistas é “Simão”. Era um nome muito comum, no tempo de Jesus. De qualquer forma, como reremos, esse nome não aparece no episódio segundo João.

Outra coisa que você insinua, embora não o diga explicitamente, é a ligação desse “Simão”, anfitrião que recebe Jesus, com o pai de Judas Iscariotes (João 6,71), também chamado de Simão. Nunca vi nenhuma ligação entre o pai de Judas e o episódio da unção pela mulher. Portanto, não colocaria ele nessa história.

Vamos ver de maneira mais esquemática o episódio, como aparece nos 4 Evangelhos.

 

Lucas

Segundo Lucas (7,36-50), Jesus estava na casa do fariseu Simão quando uma mulher, dita “pecadora”, com suas lágrimas lava os pés de Jesus, os enxuga com seus cabelos e os unge com perfume. Lucas coloca esse evento na Galileia, longe do tempo da paixão em Jerusalém.

Uma pregação do Papa Gregório Magno, há 1500 anos, identificou a “pecadora” com Maria Madalena, mas certamente que não é correto. De fato, Maria Madalena aparece logo em seguida em Lucas, como uma das pessoas que acompanhavam Jesus por cidades e povoados (Lucas 8,1-2). Dela se diz que haviam saído 7 demônios. Se nessa passagem Lucas a chama por nome, não teria nenhum sentido no capítulo precedente chamá-la de “pecadora”, sem dizer que se chamava Maria. Portanto, a dedução de Gregório Magno é errada.

 

Mateus e Marcos - João

Os outros três evangelistas trazem uma história diferente, que acontece nas vésperas da Paixão de Cristo e situam o evento em Betânia, que fica a poucos quilômetros de Jerusalém. Apesar de ter “Betânia” como elemento comum, os três evangelistas têm algumas diferenças entre si.

Mateus 26, 6-13 e Marcos 14,3-9 falam que Jesus estava à mesa, na casa de Simão, o leproso. Aproxima-se de Jesus uma mulher, com um frasco perfume caro, e derrama sobre sua cabeça. Todos dizem que é um desperdício, mas Jesus elogia o gesto da mulher, definindo-o como profético.

João 12 também conta a “unção de Betânia”. Mas repete os gestos contados por Lucas: Jesus é um ungido com um perfume caro por uma mulher, que enxuga os pés com seus cabelos. João não diz na casa de quem estavam comendo, somente que Lázaro estava à mesa com Jesus e que Marta servia. Também dá um nome à mulher que unge a Jesus: se trata de Maria, irmã de Marta e Lázaro.