Antes da Páscoa, a Igreja vive um tempo particular, dito Quaresma. É um período de 40 dias que visa preparar a celebração da festa da Páscoa. Começa com a quarta-feira de cinzas e termina na quinta-feira santa, quanto começa o tríduo pascoal. Essa prática começou muito cedo na Igreja, mas foi no século IV que se estabeleceu como a temos hoje: 40 dias marcados por uma prática penitencial preparatória para a Páscoa caracterizada pelo jejum.
É importante ler esse momento da vida da Igreja à luz do simbolismo bíblico, considerando particularmente o número 40.
Momentos importantes representados com o número 40
O 40 aparece muitas vezes na Bíblia. Ele é o número simbólico com que o Antigo Testamento representa os momentos mais importantes da experiência de fé do Povo de Deus. É expressão do tempo de espera, de purificação, da volta do Senhor e da certeza da fidelidade divina a suas promessas.
Junto com os números três e sete, o número 40, na maioria das vezes, não significa um tempo cronológico, mas um tempo suficiente para ver as obras de Deus, um tempo durante o qual é necessário tomar uma decisão e assumir as próprias responsabilidades: é o tempo de decisões maduras.
O primeiro exemplo encontramos na história de Noé, homem justo, que durante o dilúvio passa 40 dias e noites na arca, junto com sua família e os animais que portara consigo. Depois que as águas param, passa outros 40 dias antes de descer da arca, salvos do dilúvio (Gênesis 7 – 8).
Isaaac, filho de Abraão, com 40 anos decide finalmente de casar-se e atuar a bênção que Deus havia dado ao pai, prometendo uma família grande.
A vida de Moisés, que guia o povo do Egito até a Terra Prometida, é dividida simbolicamente em três períodos de 40 anos: tirou o povo da escravidão quanto tinha 80 anos (veja Atos dos Apóstolos 7,20-43). No deserto, depois de 40 dias e 40 noites sobre o Sinai, em jejum, recebe a Lei (Êxodo 24,18).
Recordando o caminhar pelo deserto, Deuteronômio 8,2-5 diz que foram 40 anos durante os quais Deus quis conhecer o que o povo tinha no coração, se iria observar ou não os mandamentos; foi um período em que Deus educou o povo, sem que nada lhe faltasse.
Às portas da Terra Prometida, os exploradores hebreus demoraram 40 dias para completar a inspeção da terra, depois que partiram do deserto de Paran (Números 13,25).
No tempo dos juízes, Israel tem 40 anos de paz (Juízes 3,11.30), mas em seguida, se esquece dos dons de Deus e voltam ao pecado.
O profeta Elias leva 40 dias para chegar ao Horeb, o monte aonde encontra Deus (1Reis 198).
Os habitantes de Nínive, durante 40 dias, fazem penitência para obter o perdão de Deus (Gênesis 3,4).
Os três primeiros reis de Israel governam por 40 anos cada um (Saul – Atos 13,21; Davi – 2Samuel 5,4-5; Salomão – 1Reis 11,41).
No Novo Testamento, Jesus, antes de começar o seu apostolado, retira-se no deserto por 40 dias, sem comer e beber (Mateus 4,2), nutrindo-se da Palavra de Deus, que é a arma que usa quando o demônio o tenta.
Depois da ressurreição, Jesus fica com seus apóstolos instruindo-os, antes de mandar o Espírito Santo (Atos 1,3), quando ascende aos céus.
Tempo de renovamento
A quaresma é um tempo de íntimo contato com o Senhor, em vista de viver de maneira intensa o mistério da Morte e Ressurreição de Cristo. É um tempo de caminho de renovamento espiritual, à luz da experiência bíblica, aprendendo principalmente a rejeitar as tentações com a vivência da Palavra de Deus.