Assim lemos no versículo que você menciona:
Vou pedir contas do sangue, que é a vida de vocês; vou pedir contas a qualquer animal; e ao homem vou pedir contas da vida do seu irmão.
Como sempre deveríamos fazer na leitura da Bíblia, é importante alargar o horizonte e entender o contexto. Gênesis 9 fala da nova ordem do mundo, estabelecida depois do dilúvio. Trata-se de uma nova criação e também aqui o homem é estabelecido, como nas origens, como rei da criação: todos os animais “são entregues nas mãos dos homens” (versículo 2). Todavia, nessa nova ordem aparece evidente a luta dos animais com o homem e dos homens entre si. A partir de então se almeja a paz paradisíaca (veja Isaías 11,6 seguintes). É nesse contexto que vem inserido o mandamento de “não comer a carne com sua alma”, isto é, de não ter poder sobre o sangue: o sangue pertence a Deus e não pode ser derramado por outro, seja homem ou animal. É assim que lemos no versículo 6:
Quem derrama o sangue do homem, terá o seu próprio sangue derramado por outro homem. Porque o homem foi feito à imagem de Deus.
Quando o autor diz que também os animais prestarão conta do sangue derramado, está usando uma hipérbole para sublinhar que o sangue é assim importante, pois pertencente a Deus, que tudo, de maneira global, deve respeitar esse preceito, não tomando para si o poder sobre algo que pertence a Deus.
Os animais no plano de Deus
São cada vez mais frequentes as perguntas inerentes a esse tema. O amor às criaturas, no ambiente cristão, não é uma novidade; basta pensar na espiritualidade franciscana, que tem sua origem na Idade Média... A reflexão sobre os animais - e todo o criado - tem se multiplicado nesses últimos anos, seja por causa da preocupação climática e / ou pela vivência sempre mais comum do ser humano com os animais domésticos. Quem ama cuida e quer saber o futuro da coisa amada: que futuro têm os animais que amamos?
Não tenho uma resposta, mas defendo a necessidade que se faça uma reflexão teológica sobre esse argumento. A esse propósito é interessante notar que Paulo, na sua carta aos Romanos, quando fala do nosso destino à Glória, usa um termo que engloba todas as criaturas:
A criação em expectativa anseia pela revelação dos filhos de Deus (Romanos 8,19)
Paulo insinua que a revelação divina não se limita à esfera humana, mas à criação em geral. E além disso fala que a "criação" tem esperança de "ser libertada da escravidão da corrupção para entrar na liberdade da glória dos filhos de Deus" (Rm 8,21).
Em uma perspectiva teológica, os animais em geral são criaturas de Deus e por isso precisam de atenção e ao cuidado humano foram confiados.