Quando li a sua pergunta me veio logo em mente a passagem que traz o diálogo de Jesus com os membros do Sinédrio, pouco antes de morrer na cruz, como encontrado em Lucas 22,66-71. Os judeus lhe perguntaram: "Se tu és o Cristo, dize-nos!" E a resposta de Jesus foi: "Se eu vos disser, não acreditareis". E assim aconteceu, pois de fato logo em seguida Jesus diz ser "filho de Deus" e aqueles do sinédrio viram nessa afirmação razão para processá-lo.
Nós, às vezes, gostaríamos que a religião fosse algo mágico, que a nossa fé brotasse de um estalo, de uma iluminação. Há casos extraordinários, que vejo como Sinal, mas a maioria dos cristãos vive um processo, uma caminhada através da qual descobrem Cristo e a importância que tem a fé. Jesus passou todo o seu ministério ensinando seus discípulos a descobrir nele o Messias, mas mesmo assim, na "hora H", eles escaparam, pois a nossa fé sempre vacila, sempre tem um aspecto de insuficiência, que o ver com os olhos não resolve. São os olhos da fé que descobrem o Cristo ressuscitado.
A ação divina não se caracteriza pelo milagre, mas pelo caminhar ao nosso lado: "Filipe há tanto tempo estou ao teu lado e ainda não me coneces?" (João 14,9). A intervenção divina é eficaz porque conhece o ser humano e o respeita como tal. Deus nos resgata por aquilo que somos e não nos tira da nossa natureza, da nossa fragilidade com a força, mas através de um convite ao qual respondemos com liberdade.
Lembramos também da parábola do mau rico e do pobre Lázaro, no "seio de Abraão" (Lucas 16,19-31). O rico, que não havia se comportado bem na terra, pediu que fosse mandato aos seus, que ainda viviam na terra, uma mensagem para adverti-los e para mudassem de vida. Abraão então lhe responde: "eles têm Moisés e os profetas". O rico disse que seus parentes não os escutavam, mas poderiam escutar alguém dentre os mortos... Abraão então rebateu: "Se não escutam nem a MOisés nem aos Profetas, mesmo que alguém ressuscite dos mortos, não se convencerão".