Temos 4 evangelhos, na Bíblia. Eles foram escritos por autores diferentes (Mateus, Marcos, Lucas e João); dois deles eram apóstolos de Jesus (Mateus e João). Foram escritos na segunda metade do primeiro século, cerca de 50 anos depois da morte de Cristo. Esses 4 escritos não nasceram para entrar na Bíblia. Isso aconteceu com o tempo, devido ao uso que os cristãos fizeram desses escritos e da autoridade apostólica que tinham. Portanto, quando um autor escreveu, não havia antes sentado e combinado com o outro, dizendo: “você escreve sobre isso e eu sobre aquilo”. Ao invés, cada um quis contar a sua “história completa” de Cristo para a sua plateia. De fato, mais do que uma simples obra literária e historiográfica, os evangelhos nasceram como uma catequese destinada a um público concreto. O fato de ser como uma catequese deve nos levar a ver esses textos não como uma biografia completa, uma narração completa de tudo aquilo que fez e disse Jesus. Cada autor sublinhou o que era mais importante para a sua mensagem, aquilo que acreditava fosse mais incisivo para o seu público. Muitas coisas foram deixadas fora, como lembra João 20,30.
Existe muita discussão sobre a fonte de onde os evangelistas tiraram aquilo que dizem. João e Mateus podiam recordar daquilo que Jesus disse e fez, mesmo se 50 anos mais tarde. Lucas disse que fez uma grande pesquisa para escrever. Marcos foi discípulo de Pedro e também de Paulo e pode ter ouvido deles muitas informações. Também temos que considerar que na comunidade de judeus, a transmissão oral dos eventos era uma característica muito enraizada e possivelmente os ditos de Jesus eram repetidos oralmente e passados de um para os outros e assim chegaram também para os autores. Possivelmente cada autor ouviu a mesma história e tomou material de fontes comuns. Isso fez com que as histórias se repetissem. De qualquer forma, mesmos repetidas, cada evangelista coloca algo particular seu.
Portanto, os fatos que se repetem em cada um dos evangelhos devem ser vistos conforme a explicação dada acima.
As repetições são muito evidente nos 3 primeiros evangelhos, enquanto que João é mais particular, trazendo vários elementos que não estão presentes nos assim chamados "sinóticos". Portanto, Mateus, Marcos e Lucas são chamados de Evangelhos Sinóticos porque se os colocarmos em três colunas paralelas, numa visão de conjunto (sinópsis), ficam evidentes muitas narrações semelhantes, muitos episódios sobre a vida de Jesus dispostos com a mesma ordem, com frases iguais e poucas diferenças.
Quase todo o conteúdo de Marcos se encontra em Mateus e grande parte do que conta Marcos se encontra também em Lucas. Além disso, Mateus e Lucas têm vários elementos que não estão em Marcos. A imagem aqui abaixo dá uma visão panorâmica da relação entre os 3 evangelhos sinóticos.