A palavra portuguesa “igreja” não lembra muito a origem etimológica desse vocábulo. A sua origem é a palavra grega ἐκκλησία (Ekklesía), um substantivo formado por ek (igual a ex), que significa "para fora", e pelo verbo kaléo, que significa “chamar” ou “convocar”.
Essa palavra não é algo novo na boca de Jesus (Mateus ), no Novo Testamento, aonde aparece 114 vezes (62 vezes nas Cartas de Paulo). De fato a sua origem está intimamente ligada ao contexto político da democracia grega (5 séculos antes de Cristo), onde era usada. “Igreja” era uma assembleia pública, um evento político quando os cidadãos eram “chamados para fora” de suas casas e se reuniam na praça (em grego “agorá”). Quem não saia de suas casas para essas reuniões eram chamados de “idiótes”, de onde vem a nossa palavra “idiota”, cujo sentido grego é “homem privado”, desinteressado das coisas públicas.
Em síntese, na origem, ainda antes do Novo Testamento, a palavra grega ekklesia significava uma assembleia pública de cidadãos gregos que se reuniam para debater temas políticos. Esse sentido é muito claro em Atos dos Apóstolos 19,32:
“Uns gritavam uma coisa, outros outra. A assembleia (ekklesia no original grego) estava totalmente confusa, e a maior parte nem sabia por que motivo estavam reunidos”. Veja também os versículos 39 e 41 desse capítulo de Atos.
Na Bíblia
É muito comum encontrarmos em nossas bíblias, no Antigo Testamento, a expressão “assembleia”. Essa palavra tem por trás a palavra hebraica “qahal”, que é o termo preferido para descrever a comunidades dos judeus que se reúne, tanto com caráter religioso quanto jurídico. Os gregos traduziram esse termo hebraico com o termo ekklesia. Foi assim que o conceito presente no Antigo Testamento de “comunidade” de fieis que creem no Senhor passou para a palavra “ekklesia”.
Outras questões
O nosso leitor acrescenta à sua pergunta outros dois tópicos, que transcrevo aqui abaixo:
Se Jesus falou "a minha Igreja" deveria existir outras? É verdade que os Romanos enviavam aos povos conquistados pessoas que influenciavam os bárbaros com a cultura romana e essas pessoas se reuniam como "igreja"?
Jesus usa o termo “igreja”, em Mateus, como a comunidade messiânica, especialmente quando diz a Pedro que “construirá a sua Igreja” (16,18). Mas é também uma comunidade que se reúne legalmente, como se vê na caso em que a correção fraterna não funcione e a pessoa precise ser levada diante da “igreja” (18,17). Não existe nenhuma evidência de “outras” igrejas, pois basicamente o sentido é aquele de “grupo reunido” e só aos poucos passará a designar especificamente os cristãos reunidos em comunidade.
Em relação ao outro tema, romanos e bárbaros, não parece algo muito fundamentado. Tradicionalmente, sem entrar em detalhes, os romanos se caracterizavam pela tática de respeitar a cultura local, sem impor aos conquistados aquela sua. Por exemplo, em Jerusalém, eles nunca proibiram aos judeus de terem seu Templo e seguirem seus preceitos. Ao contrário dos romanos, os gregos, 2 séculos antes da chegada de Cristo, são historicamente conhecidos por impor uma cultura helenizante, destruindo os costumes religiosos especificamente dos judeus e impondo os próprios costumes e cultos, coisa que provocou a revolta dos Macabeus e a derrota do rei helenista. Mas nesse caso não é correto inserir nessa história “igreja”.