A questão tem como contexto Gênesis 1, no primeiro relato da criação. Nos primeiros 5 dias da criação, o verbo que cria é usado no singular: “haja”, “assim se fez”. No sexto dia, quando Deus cria o ser humano ‘à sua imagem’ a frase usada é:
“façamos o homem à nossa imagem...”
Nasce espontânea a pergunta: “quem estava com Deus criando o ser humano, visto o plural usado?”
No curso dos séculos, muitas explicações foram dadas. Uma das mais famosas é aquela que vem dos Padres da Igreja, os teólogos cristãos dos primeiros séculos da Igreja, que viram já sugerido nesse “nós” o mistério da Trindade, revelado plenamente na vinda de Cristo. Essa interpretação obviamente não consegue satisfazer a todas as correntes de fieis, especialmente as correntes religiosas que não acreditam na Trindade.
A tradução grega da LXX, que foi seguida pela Vulgada, a tradução latina, como se vê em Salmos 8,6 e em Hebreus 2,7, compreendeu este texto como uma deliberação de Deus com sua corte celeste, com os anjos.
Do ponto de vista literal, alguns pensam a um plural majestático, mas é uma explicação que não convence. Também não convence o fato que o nome Elohim, usado nesse capítulo, é um plural. Essa hipótese não se funda pelo simples fato que “elohim”, em vários outras ocorrências bíblicas, é quase sempre usado como nome próprio e acompanhado normalmente de um verbo no singular.
Os exegetas, ao invés, tendem a ver nesse uso de “nós” um “plural deliberativo: quando Deus ou outra pessoa fala consigo mesmo, a gramática hebraica parece aconselhar o uso do plural. Um exemplo desse uso temos em Gênesis 11,7: “Vinde! Desçamos! Confundamos a sua linguagem para que não mais se entendam uns aos outros”.
Não é fácil definir qual é a interpretação correta. Como sempre acontece em relação aos textos bíblicos, as interpretações não são excludentes, mas se completam.