Olá José Carlos Xavier do Rio de Janeiro - RJ!
No texto das Cartas Paulinas encontramos três grupos de mulheres que participaram ativamente das Comunidades Paulinas e foram colaboradoras na pregação doe Paulo:
- as colaboradoras de Paulo,
- os casais missionários e
- as diaconisas
1 – As Colaboradoras de Paulo
Um fato totalmente novo encontramos nas Cartas Paulinas. Surgem as colaboradoras, inúmeras mulheres formaram o grupo de pessoas simpatizantes a pregação de Paulo e passaram a auxiliá-lo. Como mulheres numa sociedade constituída de famílias patriarcais, o espaço feminino se restringia a sua própria casa. Este é um dado muito importante, as mulheres abriram suas casas às comunidades e as comunidades passaram a se reunir nas casas, para ouvir a palavra e celebrar a eucaristia. Neste espaço da casa a mulher passou a ser valorizada. Elas passaram a ser colaboradoras e ajudavam na obra de evangelização. Os Atos dos Apóstolos falando da atividade de Paulo conservam o nome de uma mulher cristã, moradora de Jerusalém e que na sua casa os discípulos se reuniam para a oração e para ouvir a palavra. Esta mulher é Maria, mãe de João, também conhecido por Marcos evangelista. Ela exerce a hospitalidade acolhendo Pedro ao sair da prisão (At 12,12).
Paulo fala de Maria, Trifena, Trifosa e Pérscide (Romanos 16,12)
Paulo falando de Maria, mãe de Marcos e de outras três, citadas em (Rm 16,12) Trifena, Trifosa e Pérscide afirma são mulheres que se afadigaram. Paulo quando usa este verbo refere-se ao seu próprio trabalho de evangelização e coloca estas mulheres também como participantes da obra da evangelização. Paulo usando este mesmo verbo em (1 Cor 16,16; 1 Ts 5,12) indica o trabalho apostólico daqueles que são responsáveis pela comunidade.
Outro dado importante, com referência as mulheres nas Comunidades Paulinas foi à hospitalidade. Era um costume hebraico receber todo o Judeu que chegasse a sua casa ou cidade. Providenciava-se casa, trabalho e alimento. Paulo utilizou muitas vezes desta prerrogativa quando chegava às cidades para evangelizar. Esta acolhida era de responsabilidade feminina elas acolhiam o visitante e dispunham as casas para os cristãos se encontrarem e celebrarem a palavra e a eucaristia.
Maria mãe de Marcos, evangelista, e tantas outras mulheres daquela época acolheram a Igreja em suas casas. Ainda não conseguimos ver com clareza a função que elas exerciam durante a “fração do Pão”, mas é de acreditar que o anúncio da palavra ocorria através da liderança feminina em suas casas. Podemos afirmar que o trinômio é verdadeiro: Teto – Pão – Catequese, realizado pelas mulheres com simplicidade e carinho.
Paulo fala de Lídia colaboradora em Filipos:
Filipos era uma das principais cidades da Macedônia Oriental, se localizava a 16 Km da costa do mar Egeu. Foi à primeira cidade européia que Paulo evangelizou e tornou-se a cidade predileta onde Paulo fez muitos amigos. A carta aos Filipenses é chamada a carta da alegria. Paulo tem alegria em escrever a eles de recordar sua obra de evangelização e de dirigir exortações.
Filipos tinha uma comunidade muito pequena de Judeus. Eles não tinham sinagoga. Eles se reuniam nas cercanias da cidade em um lugar que possuía muitas fontes de água. Utilizavam esta água para fins de purificações antes das orações. Ai reunia-se muitas mulheres para tingir os tecidos de púrpura, a venda de roupas era fonte de riqueza para a cidade. Muitas destas mulheres viviam do comércio de tecidos, tinham certo prestígio na cidade, eram independentes economicamente e tinham autonomia religiosa.
A carta aos Filipenses nos narra a conversão de Lídia e de toda sua família, incluindo os funcionários que foram batizados, ela era uma comerciante de púrpura. Na casa de Lídia a comunidade passou a se reunir e Paulo levou a eles a obra da evangelização.
Paulo na prisão em Felipos fala de outras duas: Evódia e Síntique
Paulo na Prisão não esqueceu a comunidade de Filipos, e dirige a eles uma mensagem recordando outras duas mulheres Evódia e Síntique duas conceituadas mulheres macedônicas. Provalmente existia um conflito de liderança entre as duas e Paulo exorta:
“Eu exorto a Evódia e a Síntique a serem unânimes no Senhor” (Fl 4,2). Bíblia de Jerusalém.
Elas eram conhecidas por serem de forte personalidade e a desavença entre elas quebrava a harmonia da comunidade a quem Paulo ministrava. Paulo leva em consideração o trabalho delas:
“porque me ajudaram na luta pelo evangelho, em companhia de Clemente e dos demais auxiliares meus cujos nomes estão escritos no livro da vida.” (Fl 4, 3).
Paulo citando em sua carta esta duas mulheres as coloca ao lado de seu grupo apostólico. Ainda na prisão o apóstolo Paulo escreve um bilhete a Filemon e saúda a irmã Ápia.
2 - Os Casais Missionários
Auxiliam Paulo: Priscila e seu maridoÁquila e Priscila (também chamada de Prisca) se encontram com Paulo na cidade de Corínto. Era um casal Judeu vindos de Roma e deram hospedagem a Paulo em sua casa. Paulo não só recebeu hospitalidade da parte deles, mas também trabalhou com eles como fabricantes de tendas (At 18,3). Tornou-se um casal evangelizador de Éfeso em um cidade de cultura grega. Conforme a narrativa de Coríntios 16,19 eles cediam sua casa para os cristãos se encontrarem possibilitando a Comunidade se reunir. Tornaram-se Áquila e Priscila os missionários dos gentios, colaboradores em Cristo Jesus. Paulo elogia o casal dizendo para salvar minha vida eles expuseram a sua própria cabeça. A gratidão a eles não é devida só a mim mas também de todas as Igrejas da gentilidade.
Apolo, originário de Alexandria foi evangelizado por Priscila e é citado como:
“homem eloqüente e versado nas escrituras” (Atos 18,24-26) Bíblia de Jerusalém.
Outro casal que auxilio Paulo: Junia e seu marido Andrônico
Na carta aos Romanos encontramos o casal Andrônico e Júnia (Rm 16,7) eles receberam o nome de apóstolos. O título dado a uma mulher de apóstolo foi contestado por muito tempo pelos estudiosos. Penso que mais por preconceito do que pela liderança que ela exercia na comunidade.
Muitos outros casais encontramos nas Cartas Paulinas que trabalharam lado a lado pela causa do evangelho lembramos:
“Saudai Filólogo e Júlia; Nereu e sua irmã, e Olímpias, e todos os santos que estão com eles”(Rm 16,15) Bíblia de Jerusalém.
3 – Diaconisas
Paulo tem a diaconisa Febe como colaboradora na comunidade.
O envolvimento das diaconisas no apostolado das Comunidades Paulinas dos primeiros tempos é um fato indiscutível. Aqui só fazemos um breve resumo que mostra como a ação das diaconisas se inseriam no quadro das Comunidades de Paulo
O termo “diakonos” no início era usado para os missionários ou pregadores, que atendiam uma comunidade. As diaconisas nesta época (primeiro século) também eram missionárias, evangelizadoras oficiais e tinham como a tarefa principal, atender os pobres, os doentes, as viúvas e os batizados. Nas cartas paulinas a função do diaconato não havia distinção entre os homens e mulheres.
Um exemplo característico deste serviço que as mulheres exerciam na Comunidade é o exemplo de Febe. Ela é considerada “irmã” e “diakonos” da igreja de Cencreia. Considerar Febe como diaconisa é dar a ela reconhecimento de uma função eclesial.
“Recomendo-vos Febe, nossa irmã, diaconisa da Igreja de Cencréia, para que o recebais no Senhor de modo digno como convém aos santos, e assistais em tudo o que ela de vós precisar, porque também ela ajudou a muitos, a mim inclusive”. (Rm 16,1-2) Bíblia de Jerusalém.
Ela é colocada ao lado de Paulo e dos outros líderes.
Considerações Finais
Há muito mais referências na literatura Paulina a homens exercendo o ministério do que as mulheres em ministério, mas considerando a situação cultural isto não é de se admirar. O admirável de tudo isto é que há referência as colaboradoras, a obra evangelizadora dos casais e diaconisas. O fato que se constata que existe um número moderado de mulheres com liderança na evangelização das Comunidades Paulinas indicando com isto que desde o começo o Cristianismo reconheceu o papel legítimo de mulheres exercendo atividades evangelizadoras. Aquele ideal não podia ser realizado naquela época plenamente e ainda não está sendo realizado em nossas comunidades. Entretanto, avanços tem sido feito e todos nós acreditamos que agora chegou o tempo para que se complete a realização daquele ideal.