A pergunta do Diego, na íntegra, aparece aqui embaixo:

Quando morremos, sendo cristãos, vamos direto ao encontro de Deus ou esperaremos sua segunda vinda para o julgamento? Se esperamos, como entender a intercessão dos Santos? Desculpe o tamanho da pergunta, mas é uma dúvida que não é facilmente explicada por interpretação bíblica, sou católico, mas tenho dificuldades em explicar quando me indagam essa questão.


Começo pelo final da sua colocação: “tenho dificuldades em explicar”. Pode ter certeza que essa sensação é comum a todos nós. Se por um lado, graças a nossa fé, sabemos que Deus nos prepararou uma morada eterna (João 14,2-3), por outro lado ninguém nos explicou, em detalhes, como ela será (veja aqui outros textos sobre a “morada eterna”). Sabemos apenas que as coisas “no céu” não respeitam os nossos esquemas e nossas lógicas (Mateus 22,30-32). Mesmo com essas certezas reveladas pelas Escrituras, a sua pergunta não é sem lógica, pois a nossa fé busca compreender e estamos constantemente nesse caminho, realidade que se chama “teologia”.

É necessário, porém, chamar a atenção para uma atitude muito típica desse mundo imediatista do qual somos contemporâneos: queremos logo uma resposta para tudo e não suportamos o mistério. A nossa fé é um Mistério. As respostas se descobrem com a vida, aos poucos; são desveladas! Há respostas que se sobrepõem, que se superam, pois uma resposta exige outra mais profunda. Este é o percurso tipicamente teológica: no Mistério, aquele com letra maiúscula, não existe uma resposta definitiva, mas uma busca.

Essa explicação não é uma desculpa para evitar uma resposta, mas um convite a uma reflexão profunda sobre o Mistério, sobre as questões essenciais da nossa fé, tal como aquelas sobre a vida eterna e sobre o juízo final.

 

Segunda vinda de Cristo - Parusia

O juízo final é algo revelado de maneira insistente pela Bíblia, já no Antigo Testamento (Malaquias 3,5; Salmos 1,5; 96,13; Daniel 7,10; Atos dos Apóstolos 17,31; 1Pedro 4,17; Apocalipse 14,7; 20,11-12). Esse juízo foi, no decurso da tradição religiosa de Israel e da Igreja, colocado em relação com a vinda do Senhor, com a “segunda vinda” de Cristo, a Parusia, que retoma o conceito do Antigo Testamento contido na expressão “Dia do Senhor”. Um dos aspectos característicos dessa “vinda” de Cristo é a sua missão como juiz.

Parusia, que em grego significa “presença” aparece nos Evangelhos somente em Mateus 24 (4 vezes). É em Paulo que ganha uma importância extraordinária. Ela é vista como a coroação da opera de salvação, pois à Parusia está ligada a ressurreição dos mortos (1Tessalonicenses 4,15-17) e a recepção do corpo glorioso (1Coríntios 15,51-53; Filipenses 3,21).

Paulo usa a linguagem apocalíptica para falar dessa vinda (1Tessalonicenses 4,16-17; 2Tessalonicenses 1,7-8). O termo Kyrios (Senhor) è típico desse contexto: “Parusia do Senhor”, “esperança no Senhor”, “arrebatados pelo Senhor” e “Dia do Senhor” (veja 1Tessalonicenses).

 

Quando isso acontecerá?

É possível que algo que encontramos nas cartas de Paulo nos possa ajudar a dar algumas pistas para uma eventual resposta. Paulo não excluía a eminente Parusia (veja 1Tessalonicenses 4,16-17), mesmo se logo em seguida (5,1), quanto ao tempo e ao prazo, recorda que “o Dia do Senhor virá como ladrão noturno”, isto é, é preciso vigilar, pois não se sabe quando o Senhor vem.

Talvez é por isso que nas outras cartas do Novo Testamento não se fala mais de “Parusia”, mas de “Epifania”, termo que significa “manifestação”, englobando tanto a vinda de Cristo na encarnação quanto a sua vinda gloriosa. Parece que a espera eminente da vinda de Jesus se transforma numa esperança escatológica (veja Tito 2,13; 1Timório 6,14; 2Timótio 4,1).

João vai falar de uma “escatologia presente”, especialmente no último capítulo do Evangelho. Mas fala também do “último dia”, sendo Cristo descrito como nos discursos escatológicos dos Sinóticos, com termos apocalípticos.

Isso demonstra como a reflexão mesmo dentro da Bíblia é em evolução. E ainda hoje nos perguntamos quando é este “último dia”, como acontecerá como chega para nós esse dia? Qual é o percurso cronológico? Existe purgatório? Quando tempo ficaremos ali, “esperando”?

Não sabemos!

Pessoalmente penso que a teologia deveria fazer mais esforço na busca de respostas. Mas também tenho certeza que erramos ao pensar em categorias temporais que são típicas nossas. É verdade que não temos à disposição outras categorias e são apenas essas que podemos usar. De qualquer forma, podemos imaginar que elas não são adequadas para descrever o "tempo" depois da morte, a eternidade. Acredito que na eternidade não exista um "antes", "agora" e "depois", mas uma continuidade, uma unidade. Se assim é, é errado perguntar “quando”. Penso que o juízo divino é algo que acontece em todo momento, “aqui e agora”.