Não existiam, naquele tempo, “deputados” como aqueles que existem nas democracias hodiernas. Os “políticos” não eram tantos, pois normalmente o sistema político era caracterizado pelo soberania de um rei.
Algumas versões, para a passagem que você menciona, 2Crônicas 24,11, realmente usam a palavra “deputado”, como podemos ver na Almeida Revista e corrigida de 1969:
E sucedeu que, ao tempo que traziam a arca pelas mãos dos levitas, segundo o mandado do rei, e vendo que já havia muito dinheiro, vinha o escrivão do rei, e o deputado do sumo sacerdote, e esvaziavam a arca, e a tomavam, e a tornavam ao seu lugar.
O mesmo faz a NTLH.
Já a Edição Pastoral tem outra tradução:
Toda vez que os levitas levavam o cofre para a inspeção real, e viam que havia muito dinheiro, o secretário do rei e o inspetor do sumo sacerdote esvaziavam o cofre e o colocavam novamente no mesmo lugar.
A Bíblia de Jerusalém traz “secretário real” e “comissário do sacerdote-chefe”.
Como você pode ver, as traduções tentam nomear de maneira clara quem eram os encarregados de tomar as ofertas do cofre. Para ter uma resposta mais clara e ver que se aproxima mais do original, precisamos ler o texto hebraico, onde encontramos as palavras “soper” e “paqid”. A primeira palavra é normalmente traduzida como “escriba” e a segunda como é normalmente traduzida com um desses três termos: “comissário, deputado, superintendente”, como sugerido pelo famoso Strong. Pode ver nesse link as 13 ocorrências desse vocábulo na Bíblia Hebraica.
A explicação mais provável é que o dinheiro era recolhido por ao menos duas pessoas, um escriba, encarregado de anotar a cifra e outra pessoa, que era um tipo de controlador mandado pelos sacerdotes. Haviam portanto um representante do rei e outro dos sacerdotes, garantindo assim a correta contagem do dinheiro recolhido.
Traduzir a Bíblia
Muitas vezes sublinhamos aqui que não é fácil traducir para nossas línguas a Bíblia, que originalmente foi escrita em uma língua muito diferente das nossas, em uma linguagem semítica. Os tradutores procuram dizer, de maneira mais fiel possível, na sua própria linguagem aquilo que o autor quis dizer com a sua linguagem. Isso nem sempre é fácil e também depende de quanto seja esperto e preparado o tradutor ou, hoje, a equipe que produz uma versão da Bíblia. Muitas vezes se usam conceitos atuais para explicar realidades completamente estranhas, que existiam apenas naquele tempo.