Noé é um dos mais famosos personagens bíblicos, protagonista da história do dilúvio, contata em Gênesis, dos capítulos 6 a 9. Estamos nos primeiros capítulos da Bíblia e, como repetimos inúmeras vezes, essas histórias são verdades contadas com a ajuda de elementos mitológicos. O dilúvio é uma realidade experimentada apenas localmente e transformada em uma lição para toda a humanidade. Noé é inserido nessa histórica e é representado como um "homem justo", que "encontrou graça aos olhos de Deus". Se quiséssemos fazer uma consideração histórica, coisa pouco útil nesse caso, Noé vem antes dos patriarcas, antes da aliança entre Deus e aquele que será o povo eleito, através de Abraão.
A sua pergunta poderia ser concernente a tantos outros personagens do Antigo Testamento. Poderíamos perguntar também quem teria anunciado a Palavra de Deus para Abraão e assim por diante. Na verdade, essa pergunta tem um background moderno, pois hoje, seguindo o pedido de Cristo, a palavra divina se anuncia. No povo de Israel não era assim. Os judeus nasciam judeus e dentro do povo cresciam conhecendo os ensinamentos da Lei. Haviam também judeus que vinham do mundo pagão, mas isso só bem mais tarde e não era resultado de "pregação", como se entende hoje. No fundo, se nascia judeu e dentro de um ambiente que conhecia o pacto do Senhor com o povo.
No contexto da sua pergunta, põe-se também outra questão. Poderíamos dizer que quem nunca ouviu falar de Cristo, do Evangelho está excluído da mensagem divina? Na história do cristianismo, pensou-se que quem não estava dentro da Igreja era excluído da salvação, realidade sintetizada na clássica expressão "Extra Ecclesiam nulla salus". Todavia, coisa sublinhada há muito tempo, também fora do mundo cristão a "semente" divina está presente e há pessoas que praticam igualmente o ensinamento apresentado por Jesus.
A semente de Deus, intrínseca na humanidade graças à criação feita com mãos divinas, estava em Noé. Deus usou essa característica para que ele se tornasse o protagonista de uma nova criação, um mundo sem os vícios, que fosse propício à realização do plano divino.