No hemisfério norte, nesse período pré-natalício, vive-se o início do inverno, com o abreviar-se contínuo dos dias, até 22 de dezembro, quando normalmente acontece o solstício de inverno. É um tempo particular, marcado pelo frio, pela falta de luz, pela introspecção... Na sociedade local, desde sempre esse tempo foi celebrado de maneira marcante. O comportamento do sol condiciona a caminhar da humanidade e o seu “esconder-se” impressiona. Junto com essa sua ausência, que cresce com as jornadas, até 22 de dezembro, está uma esperança certificada: o sol com certeza nascerá no dia seguinte. Essa convicção presente no comportamento do sol dava esperança: mesmo diante de uma noite longa, fria e angustiante o sol reaparecerá e fará com que a vida continue o seu ciclo.

Quando o sol termina o seu percurso de decadência e recomeça a prevalecer sobre as trevas, a população rompia em júbilo vivido na própria pessoa, na família e principalmente na sociedade. Essa alegria, repetindo, se baseava no “sol invictus”, um astro que com certeza ganhava a batalha contra as dificuldades, contra as trevas e voltava a crescer na sua presença, trazendo luz e calor, caracterizados por dias cumpridos. Por isso o sol aparece como um emblema de invencibilidade. Deriva natural que muitos políticos, príncipes das populações se apoderassem dessa imagem e procurassem imitar o sol, mostrando-se como um “sol invictus”. Diziam: “assim como não é possível vencer ao sol, assim não é possível vencer a mim.”

Essa simbiose se realizou no Egito, onde o Deus sol era protagonista, mas especialmente em toda a área do mediterrâneo, aonde dominava a cultura romana, no império romano. É assim que temos o imperador que se chama “Augustus” (Júlio César), um que cresceu ao máximo (o termo deriva do vergo greco αὐξάνομαι, “eu cresço”). Da mesma maneira, um general do exército que vencia o inimigo era aclamado como “o augusto”, que podia ser comparado ao sol invictus. O augusto era aquele que havia humilhado todos os seus inimigos e conseguira a paz.

Esses sinais metafóricos se transformavam também em elementos de culto, através da construção de imagens desses heróis, príncipes da paz.

E quando aparecia o novo imperador, o novo “augusto”, todos os precedentes eram eliminados, pois deviam dar lugar ao novo príncipe.

O augusto era aquele que trazia luz, dava vida e aquele que administrava a justiça, sendo a última instância possível. No seu poder estava a vida e a morte. Basta ver o poder que tinha nos jogos que se faziam no coliseu, por exemplo, onde ele decidia sobre a vida ou morte do gladiador derrotado.

 

Transformação ao ambiente cristão

Quando se desenvolveu o anúncio cristão no ambiente do Mediterrâneo, todas essas prerrogativas atribuídas ao imperador passaram a Cristo, ao Senhor (Kyrios) por antonomásia, que foi enriquecido com ulteriores atribuições que permitiam ver nEle tudo aquilo que antes era reconhecido na figura do Imperador, incluindo a definição de “sol invictus”, o sol invencível. Passou-se a entender Cristo como um sol que vai além do próprio sol, que derrotou as trevas, que dá definitivamente a vida, pois a derrotou para sempre, irradiando assim a vida que não tem mais fim.

Tudo isso era vivido pelos cristãos através da leitura da Palavra de Deus e também através dos sacramentos: quem se aproximava dessas realidades, se identificava e participava da vida dada por Cristo, que vencera as trevas.

Tudo isso se desenvolveu na história e chegou até nós como um momento importante que antecede a celebração do nascimento do Menino Jesus, que nós chamamos de Advento, as 4 semanas antes do Natal.