Não foi Moisés que escreveu esse livro, embora às vezes encontramos essa afirmação. Na verdade, a tradição costuma a atribuir a ele todos os 5 primeiros livros da Bíblia, que nós chamamos de Pentateuco e que a tradição judaica chama de Torá (ensinamento), erroneamente traduzido como "Lei". A síntese da Tora são os 10 mandamentos e Moisés foi aquele que os recebeu de Deus, sobre o Monte Sinai, enquanto o povo hebreu pelegrinava pelo deserto, do Egito rumo à Terra Prometida, cerca de 1200 anos antes de Cristo. O protagonismo de Moisés nesse evento fez com que todos os livros, no complexo chamados de Torá, fossem atribuídos a ele.
Obviamente não é assim, mesmo porque em Deuteronômio 34 encontramos a narração da Morte de Moisés: como poderia ele contar a própria morte?
A composição desses livros tem uma história muito complexa e boa parte dos críticos pensa que eles ganharam a forma atual ao menos 500 anos depois da morte de Moisés, quando o povo voltou do Exílio na Babilônia. Isso não significa que os livros nasceram naquele momento, mas que foram colocados dessa forma por um tipo de redator, que reuniu diversas fontes literárias já existentes separadamente, com vida própria. Os críticos conseguem identificar essas fontes graças a técnicas literárias ou até mesmo através de identificação de uso de certos termos para Deus, por exemplo. Há textos que usam "elohim" e outros que usam "javé". Esse aspecto já denotariam duas fontes diferentes. Além disso outros textos tem um forte teor litúrgico, em relação às práticas do Templo. Esses textos derivariam do ambiente sacerdotal, ligado àqueles que trabalhavam no Templo de Jerusalém.
Além desses casos facilmente identificáveis, há vários estudos que entram em detalhes e identificam diferentes estrados que estão à origem desses 5 livros.
Por essas razões, explicadas aqui de maneira muito sumária, não é fácil dizer quem foi o autor desses livros. E o recurso ao nome de Moisés é simplesmente uma maneira para dar valor a eles.