É verdade: encontramos na Bíblia a descrição do nascimento de Jesus em Belém (Mateus e Lucas), a fuga para o Egito (só Mateus) e depois, aos 12 anos, entre os doutores em Jerusalém (só Mateus). Marcos e João começam imediatamente com o Batismo de Jesus no Jordão, por João Batista. Além disso, temos somente o sumário de Lucas 2,40:
E o menino crescia, tornava-se robusto, enchia-se de sabedoria; e a graça de Deus estava com ele.
Não sabemos o que aconteceu durante todo esse tempo, até os 30 anos, em Nazaré. Muitos apócrifos, com histórias engraçadas e sem nenhuma fundamenção histórica, tentaram preencher essa lacuna deixada pelos 4 evangelistas.
A razão desse vazio deve ser encontrada na natureza dos evangelhos. Eles não são biografias de Cristo, mas tratados de fé, que buscam passar a Boa Nova que Jesus anunciou e trouxe ao mundo. Os eventos não são contados para transmitir informações meramente históricas e/ou biográficas, mas para transmitir a mensagem da salvação. O Evangelista tem diante de si um público e procura fazer catequese para ele. Para tanto, escolhe trechos da vida do Senhor que possam ser eficazes no seu objetivo.
Outros detalhes da vida de Cristo seguirão desconhecidos. Isso faz parte do mistério da encarnação: Deus não é um super-heroi que veio ao mundo, mas um ser humano que viveu radicalmente a sua natureza divina e humana. E a natureza humana passa também pela simplicidade de uma juventude vivida em um povoado periférico da Galileia. De qualquer forma, sabemos, como afirma João, que a vida de Cristo é feita de muitos outros eventos, além daqueles contados pelos evangelistas (João 21,25):
Há, porém, muitas outras coisas que Jesus fez. Se fossem escritas uma por uma, creio que o mundo não poderia conter os livros que se escreveriam.