O nosso leitor completa a pergunta com o seguinte texto:

Pela tradição ou apócrifos, seria possível saber se José teve outros irmãos(as) além de Cléofas. O mesmo pergunto sobre Maria, mãe de Jesus: Joaquim e Ana tiveram outros filhos(as) além de Maria? Queria saber um site onde possa encontrar informações do início do cristianismo.

Os evangelhos não são obras que em si falam de história e não pretendem transmitir informações biográficas sobre os personagens que ali aparecem, mas a mensagem de Cristo. É por isso que encontramos muita dificuldade em dar respostas a perguntas como a sua. Essa mesma dificuldade tinham os cristãos a partir do quarto século. Foram então que se multiplicaram os apócrifos, tentando dar algumas informações que preenchessem essas lacunas. Mas as informações que dão, quase sempre são infundadas e não servem para dar respostas a temas históricos. Ao invés, os apócrifos são muito importantes para entender o desenvolver-se da história da Igreja e da teologia cristã.

 

Sobre Maria

A Bíblia, dos parentes de Maria, fala unicamente de uma possível irmã, quando em João 19,25 fala de uma tia de Jesus: “Perto da cruz de Jesus, permaneciam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cleófas, e Maria Madalena.” Não sabemos bem nem qual fosse o seu nome. Uma das hipóteses é que seja Salomé (veja aqui).

Sobre os pais da mãe de Jesus, nada se diz na Bíblia. Mas nos apócrifos, especialmente no Proto-Evangelho de Tiago, achamos muita literatura sobre eles de informações sobre eles: Ano e Joaquim. Narra-se que Joaquim tinha sido reprimido pelo sacerdote Rúben por não ter filhos. Mas Ana, sua mulher, já era idosa e estéril. Confiando no poder divino, Joaquim retirou-se ao deserto para orar e meditar. Ali um anjo do Senhor lhe apareceu, dizendo que Deus havia ouvido suas preces. Tendo voltado para casa, algum tempo depois Ana ficou grávida. O casal teria morado em Jerusalém, ao lado da piscina de Betesda, onde hoje se ergue a Basílica de Santana; Foi lá que eles teria ganhado uma filha que recebeu o nome de Miriam, que em hebraico significa Senhora da Luz, traduzido para o latim como Maria.

Além desses dois elementos, não é possível dizer nada mais.

Além do Proto-evangelho de Tiago, já mencionado, outros apócrifos que falam sobre Maria são: O nascimento de Maria: Papiro Bodmer; Evangelho do Pseudo-Mateus; História de José, o carpinteiro; Evangelho armênio da infância; Evangelho dos Hebreus; Livro da infância do Salvador; Pistis Sophia; Aparição à Maria: Fragmentos de textos coptas; Lamentação de Maria: Evangelho de Gamaliel; Maria fala aos apóstolos: Evangelho de Bartolomeu; Trânsito de Maria do Pseudo-Militão de Sardes; Livro do descanso; O evangelho secreto da Virgem Maria.

Leia esse artigo para ter mais detalhes sobre Maria nesses textos.

 

Sobre José

As informações sobre José, o esposo de Maria, são ainda mais escarças. Temos duas notícias contrastantes em Matues e Luca.

  1. Mateus 1,16 diz: "Jacó gerou José, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus chamado Cristo".
  2. A outra genealogia de Jesus se encontra em Lucas 3. No versículo 23 o evangelista diz que Jesus era filho de Eli.

Dessa discordância já precisamos desconfiar da informação transmitida pelos dois evangelistas. Se eles tivessem a intenção de transmitir um dado histórico, não encontraríamos essa diferença. Evidentemente os dois evangelistas tinham outra intenção, que não era dar uma notícia biográfica. Mateus, com a sua genealogia sobre Jesus, tem um objetivo muito claro: quer mostrar Jesus como rei de Israel. E para isso é importante que Ele descenda de Davi. José, portanto, deve ser da casa de Davi. Lucas, ao invés, tem uma preocupação mais universalista, fazendo Jesus ser ligado com a descendência de Adão. De fato, Jesus é o novo Adão. Portanto, o pai de José pode ser tanto Jacó quanto Eli. Não conseguiremos nunca identificá-lo, pois fora da Bíblia não existe nenhuma informação histórica sobre o esposo de Maria. O mesmo se aplica à mãe de José, de quem a Bíblia não faz nenhuma referência.

José é muito presente nos apócrifos. São sete os apócrifos que falam dele Protoevangelho de Tiago; Evangelho do pseudo-Tomé; A história de José, o carpinteiro; Livro do Descanso; Evangelho árabe da infância de Jesus; Evangelho do pseudo-Mateus e o Evangelho da Natividade de Maria. O conjunto desses relatos nos oferece muitos elementos da vida de São José, no exercício de sua paternidade em relação a Jesus.

A figura de José que decorre desses evangelhos é a de um trabalhador, um educador, um bom pai que corrige, chama a atenção do menino Jesus, que, diferentemente dos evangelhos canônicos, teve infância como as outras crianças do seu tempo. José assume o papel da paternidade terrena, refletindo a sua relação com Deus-Pai.

Nesse link você encontra detalhes sobre José em cada um dos apócrifos mencionados.

 

Os Irmãos de Jesus

Sobre esse tema, convido a ler o texto postado aqui no site há algum tempo atrás.