Os judeus até hoje não comem carne de porco, pois isso é proibido conforme aparece em Levíticos 11. A Igreja das origens, como mostram Atos dos Apóstolos 15,20, 1 Cor 8, Col 2,20-23, seguiu por certo tempo a estrada ditada por tais prescrições, mas com o tempo, tornando-se sempre mais uma comunidade que continha também fiéis que não vinham do hebraismo, pôs-se o problema da necessidade da observância radical. São Paulo exortou a considerar a composição das assembléias e das reuniões eucarísticas (onde eram consumados alimentos) feitas por cristãos provenientes do hebraísmo e provenientes do mundo pagão: o critério de comportamento a observar é a caridade, mediante a qual se convida a não prejudicar ninguém, a não escandalizar o próximo com um comportamento que não consegue entender. Mas sabemos bem que Paulo segue o ensinamento de Jesus (veja Mateus 15,11-20 - veja abaixo), que privilegia o que está dentro e não aquilo que entra. Prevalece sempre a caridade, como podemos ainda mostrar no texto de Romanos 14,2-3:

Porque um crê que de tudo se pode comer, e outro, que é fraco, come legumes. O que come não despreze o que não come; e o que não come, não julgue o que come; porque Deus o recebeu por seu.

 

Preceitos sobre os alimentos

Na lista de Lv 11,1-32 encontramos um esquema cheio de detalhes sobre os animais que podem ser consumidos ou não. Classificam-se os animais em vários grupos: quadrúpedes, peixes, alados, insetos e se distingüem em âmbido de cada grupo as espécies permitidas e aquelas proibidas. Em relação aos quadrúpedes (Lv .11,2-7 e Dt. 14, 3-9), são permitidos todos aqueles que têm o casco dividido e são ruminantes (entre os animais domésticos: os bovinos e ovinos; entre os selvagens o veado e outros). Claramente são proibidos os porcos, camelo, cavalo e gato. Entre os pássaros é permitido alimentar-se com todos, exceto 24 tipos, sobretudo aves de rapina e noturnos; normalmente se usam galinhas, pombas, codornas, marrecos. Finalmente entre os peixes é permitido comer todos aqueles que têm escamas e barbatanas.

A tradição hebraica vivente explica em diversos modos a observância destes preceitos.

  1. Muitas vezes à base de algumas proibições de comer certas espécies (sobretudo insetos) existe o desgusto por tal espécie. Precisa, porém, sublinhar que nesse modo podem ser explicados só uma mínima parte das proibições. E ainda a tradição rabínica insina que as proibições alimentárias são um tipo de educação alimentar do indivíduo.
  2. Um outro motivo atribuido a estas proibições, que tem maior popularidade entre as opiniões, é uma explicação higiênica-sanitária: alguns alimentos são proibidos por que são nocivos à saúde. Porém não é possível reduzir a Torah a um simples texto de medicina: “Faça assim e viverá bem.”
  3. Outra explicação desses limites é ligado ao fato que alimentar-se com alguns tipos de animais introduz em nós as caracteristicas negativas ou positivas do próprio animal. Por exemplo, a proibição de comer aves de rapina teria o significado de rejeitar a violência, enquanto que o casco dividido representaria a separação e a distinção moral, as escamas e as barbatanas dos peixes a resitência e o auto controle.

Pretende-se, portanto, insinar que todo bem que foi dado ao homem para o seu bem estar não deve ser usado sem reflexão, mas somente depois de ter considerado o significado da ação que se faz. Em palavras pobres, pede-se aos homens e mulheres, através dessas proibições, um domínio sobre os instintos. Isto significa que alimentar-se tem a sua sacralidade que deve ser respeitada como todo ação quotidiana, ensina a ser padrão dos apetites, habitua a regular os desejos, a fugir do conceito que o comer e o beber são o último ideal da nossa existência.

Jesus que, recordamos, era judeu, introduziu um outro tipo de relação com essas prescrições. Querendo tirar fora toda a força do significado de santificação para o homem que está à base da observância das leis alimentares, ele relativiza a observância exterior, valorizando antes de tudo a atitude do coração e antepondo esta àquela (Mt 15,11-20).