Transcrevo aqui, em seguida, o texto completo da nossa leitora.

Preciso de um direcionamento a respeito de uma promessa. Há 3 anos estava muito viciada em refrigerante, e em um determinado dia, conversando com uma amiga sobre como eu estava escrava desse vício, no calor do momento fiz uma promessa que nunca mais tomaria refrigerante. Neste primeiro momento achei que fosse a melhor saída, tendo em vista que o refri estava presente até no meu café da manhã. E eu achava que não conseguiria me livrar ou chegar em um ponto de equilíbrio de consumo dele. Em março deste ano, fez 3 anos que me livrei disso, porém eu me arrependo da promessa e sinto muita vontade em inserir a bebida novamente na minha vida, sendo que agora eu saberia dosá-la de acordo com uma margem. Já pensei em trocar essa promessa radical por algo mais brando, como eu ter uma vez por mês liberação para consumir até 1 lata de refri, mas ainda assim sinto que estou cometendo algum tipo de “infração” e tenho medo que alguma coisa ruim aconteça comigo ou com alguém que amo por conta disso. Preciso de uma orientação.

 

Em outro momento, aqui no site, respondi a um tema parecido, e espero dar uma ulterior contribuição.

As promessas na Bíblia são muito comuns (veja Paulo em Atos 18,18). Nascem de uma experiência de relação que tem muito a ver com nossas vidas, com a comunhão que temos com as pessoas com quem convivemos. Quantas vezes digo à minha esposa que vou me aplicar em fazer isso ou aquilo, para que a nossa relação seja mais autêntica. Ou também, como é comum dizer a um amigo ou amiga que vou me esforçar em mudar o estilo de vida. É, no fundo, isso que acontece com os votos que fazemos a Deus. É claro que muda o nível de relação e também o nível de importância, pois ninguém ou nada é tão importante em nossas vidas quanto é Deus.

A lógica que está por trás do voto é a MINHA relação com o outro. Não é a minha contraparte que precisa do meu voto, mas eu mesmo. Isso é muito mais evidente para com Deus. Ele é completa gratuidade, sendo tudo o que faz grátis, sem nenhuma necessidade de retribuição. Ele não nos deu a Salvação em Cristo com a condição do nosso comportamento, mas é um presente independente de nós. Por isso, em síntese, a graça não depende da nossa observância das leis divinas. É como a chuva, que cai sobre bons e maus.

Aplicando isso aos votos, não pense que a sua fidelidade a um voto feito vai condicionar a relação de Deus com você. Deus é imutável e não se deixa influenciar pelas nossas ações. Nisso a nossa relação com Deus é diferente daquela com os outros, que são susceptíveis àquilo que acontece, àquilo que cada um faz.

O que tudo isso significa para os votos que faço para Deus? O voto representa um compromisso comigo mesmo no qual incluo a minha fé em Deus. No fundo, colocar Deus nisso, no voto que faço, é uma maneira meio inconsciente de pedir a graça de Deus para perseverar no compromisso. Penso que precisamos ser bem maduros e saber distinguir o que é fundamental e o que é passageiro. Um voto pode ser muito importante em um certo momento e não ter nenhum valor em outro. Há votos que valem para sempre e outros que marcam um momento particular da nossa existência. O casamento, por exemplo, também é uma promessa, mas a ele não pode ser dado o mesmo peso de uma promessa de “não tomar nunca mais refrigerante”. Cabe a cada um saber discernir aonde está o que realmente conta.

Do ponto de vista da fé, é importante, para o crescimento da caminhada espiritual, saber que Deus continuará ao nosso lado independente do nosso comportamento. Ao mesmo tempo, a fé em Deus nos impele a fazer aquilo que é melhor para a nossa vida, na esperança de adequá-la ao projeto de Deus. E os votos, no fundo, têm essa intenção. Se eles conseguiram, ao menos em certa medida, a melhorar nossas vidas, tiveram um bom êxito.