Assim diz a pergunta, de maneira literal:

Gênesis 26,34-35 fala das mulheres de Esaú. Em Gênesis 36 fala da descendência de Esaú, mas os nomes das mulheres são diferentes. Não entendi isso. Exemplo: Basemat não é filha de Ismael e sim de Elon. A filha de Ismael é Maelet. Gênesis 28,9. Poderia me esclarecer isso?

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Há alguns textos bíblicos que mostram incoerências quando falam do mesmo argumento. Essas passagens são excelentes para explicar a dinâmica particular dos textos sagrados. De fato, pensamos que por trás de um livro, como no caso de Gênesis, há um autor que se sentou e escreveu tudo, do início até o fim. Nesse caso é evidente que não poderia haver contradições ou informações diversas. Mas não é essa a lógica dos livros bíblicos, especialmente aqueles do Antigo Testamento. Eles são formados por diversas tradições, diversas fontes, que circulavam de maneira independente, ligada a uma cidade, a uma família. Eram histórias contadas de maneira oral... Só bem mais foram colocadas por escrito e não houve muito cuidado em harmonizar todos os dados. Essa é a razão pela qual encontramos contradições em alguns poucos textos bíblicos. Para dar uma visão mais plástica dessa situação, imagine que nos primeiros livros da Bíblia temos textos que vêm do ano 1200 antes de Cristo. Esses textos começaram a ser colocados por escrito não antes que 500 anos mais tarde. Aplicando isso à história do Brasil, seria como se no tempo de Pedro Álvaro Cabral alguém tivesse vivido uma experiência que passou a ser contada oralmente, de geração em geração, e só hoje fosse colocada por escrito, em papel.

 

As mulheres de Esaú

Entrando no mérito da sua pergunta, primeiro de tudo é importante que seja claro que no tempo dos patriarcas a poligamia era uma prática comum. Dito isso, sintetizamos as informações que o texto de Gênesis nos dá sobre as mulheres de Esaú, filho de Isaac.

Lemos em Gênesis 26,34:

Quando Esaú completou 40 anos, tomou como mulheres Judite, filha de Beeri, o heteu, e Basemat, filha de Elon, o heteu. Elas se tornaram uma amargura para Isaac e Rebeca.

Gênesis 28,8:

Esaú foi à casa de Ismael e tomou como mulher, além das que possuía, Maelet, filha de Ismael, filho de Abraão e irmã de Nabaiot.

Gênesis 36,1-10

Descendentes de Esaú, que é Edom. Esaú casou-se com mulheres cananeias: Ada, filha de Elon, o heteu; Oolibama, filha de Ana, filho de Sebeon, o heveu; Basemat, filha de Ismael e irmã de Nabaiot. Ada gerou Elifaz para Esaú; Basemat gerou Rauel. Oolibama gerou Jeús, Jalam e Coré. São esses os filhos de Esaú, nascidos na terra de Canaã.

 

Como entender tudo isso? Precisa ler tudo isso na perspectiva da história tumultuada dos patriarcas. Sabemos bem que os filhos de Isaac, Jacó e Esaú, não tiveram uma convivência tranquila, desde a hora do parto. O terceiro patriarca é “Jacó” e Esaú não é o escolhido. Por isso o texto bíblico tendencialmente coloca em má luz a ele. Usa seus casamentos com várias esposas para mostrar que ele não era aquele justo. Isso fica muito evidente quando lemos Gênesis 28,6-9. Jacó diz para Isaac ir procurar uma esposa para si, mas recomenda de não tomar nenhuma que seja de Canaã, o território concedido por Deus a Abraão. Enquanto Isaac obedece ao pai, Esaú faz o contrário, casando-se com mulheres de Canaã, visto que os heteus provavelmente moravam naquela zona. Esaú tenta remediar a situação casando-se com a filha de Ismael, mas o erro já havia sido cometido. De fato, em Gênesis 36 é sublinhado o fato que se casara com mulheres de Canaã, pois interessa ao autor marcar o erro do irmão de Jacó, tirando dele toda pretensão a ser o legítimo sucessor do pai Isaac.