Jesus e os apóstolos levavam vida muito simples mas, no anúncio do Evangelho, havia necessidades bem concretas: transporte, alimentação, hospedagem, locais de reunião... Jesus tinha amigos generosos e aceitou a ajuda de muita gente, que oferecia seu barco para atravessar o lago, casa para acolhê-los, hospedagem e alimentação. Lemos no Evangelho de São Lucas que algumas pessoas do grupo de Jesus e dos discípulos "os ajudavam com seus bens"(Lc 8,3). Jesus e os apóstolos tinham sua "caixa comum"e Judas era quem devia administrá-la (cf Jo 13, 28-29); São João observa que ele era ladrão e roubava o que nela se depositava (cf Jo 12, 4-6). Jesus envia os 72 discípulos em missão dizendo que "o trabalhador é digno do seu salário" (Lc 10,7).
A primeira comunidade cristã, em Jerusalém, viveu uma experiência extraordinária de partilha de bens, que até hoje faz sonhar com aquilo que seria possível, se a comunidade humana tivesse a coragem de viver a solidariedade e a fraternidade : "Ninguém considerava suas as coisas que possuía, mas tudo entre eles era posto em comum. (... ). Entre eles ninguém passava necessidades"( cf. At 4, 32.34). Mais adiante, os Atos dos Apóstolos registram mais uma vez: "aqueles que possuíam terras ou casas as vendiam, traziam o dinheiro e o depositavam aos pés dos apóstolos. Depois era distribuído conforme a necessidade de cada um"(At 4,34). Foram momentos de grande entusiasmo e generosidade e isso atraía a atenção das outras pessoas (cf At 3,42-47; 4,32-37).
Não sabemos por quanto tempo durou esse ideal de vida comunitária e de partilha de bens. O fato é que o egoísmo e vários tipos de discriminação social não tardaram a se manifestar. Os "estrangeiros"queixaram-se que "suas viúvas eram deixadas de lado no atendimento diário"(At 6,1). Então os apóstolos instituíram os diáconos para cuidarem da atenção aos pobres e excluídos da comunidade (cf At 6,1-6).
Quando a comunidade de Jerusalém, por várias circunstâncias, começou a sofrer necessidades, S.Paulo organizou uma grande campanha de doações nas comunidades fundadas por ele (cf Rm 15,26), a qual bem poderia ser chamada "a primeira campanha da fraternidade", ou a primeira "campanha para a evangelização". Ele mesmo deu instruções sobre a maneira de organizar a campanha e a quem confiar o fruto da coleta para que chegasse aos seus devidos destinatários (cf 1Cor 8 e 9).
Interessante é observar que Paulo manda fazer a coleta no domingo: "Todo primeiro dia da semana cada um separe livremente o que tenha conseguido economizar"(1Cor 16,1-2). A recomendação revela que a coleta não era feita de maneira improvisada, nem significava pôr a mão no bolso de maneira irrefletida para "oferecer qualquer coisa"; devia ser um gesto bem consciente, realizado com aquilo que se punha "ÃÂ parte"e se destinava para esse fim. Por outro lado, o fato de fazer a coleta "no primeiro dia da semana"aproximava-a da celebração da Eucaristia; o encontro da comunidade com o Senhor ressuscitado era também a ocasião da partilha fraterna.
Paulo não deixa de recomendar generosidade nas doações, fazendo alusão a passagens da Escritura: "É bom lembrar: Quem semeia pouco, também colherá pouco; e quem semeia com largueza, colherá com largueza (cf Pr 11,24). Que cada um dê conforme tiver decidido em seu coração, sem pesar nem constrangimento, pois Deus ama a quem dá com alegria (cf. Pr 22,8). Deus é poderoso para cumular-vos de toda sorte de graças, para que em tudo tenhais sempre o necessário e ainda tenhais de sobra para empregar em alguma boa obra"(2Cor 9,6-9).
A partilha fraterna também deve ser sinal de gratidão a Deus e a quem realiza o serviço da evangelização: "Irmãos, pedimos que tenham consideração para com aqueles que se afadigam em dirigi-los no Senhor e admoestá-los"(1Ts 5,12). Quem anuncia o Evangelho comunica e partilha uma riqueza inestimável; por isso, o missionário torna-se também merecedor das atenções e da colaboração da parte de quem recebeu o Evangelho. "Aquele que recebe o ensinamento da Palavra torne quem ensina participante de todos os bens. Não vos iludais, de Deus não se zomba; o que alguém tiver semeado, é isso que vai colher. (...). Portanto, enquanto temos tempo, façamos o bem a todos, principalmente aos da família na fé"(Gl 6,6-10).
São Paulo não faz referência apenas à partilha generosa dos bens materiais mas também recomenda a oração e todo o apoio ao evangelizador: "Irmãos, certamente vos lembrais dos nossos trabalhos e fadigas. Foi trabalhando noite e dia, para não sermos pesados a nenhum de vós, que proclamamos entre vós o Evangelho de Deus"(1Ts 2,9). A oração é uma maneira de associar-se ao trabalho do evangelizador: "Rezem por nós, irmãos, a fim de que a Palavra de Deus se espalhe rapidamente e seja bem recebida, como acontece entre vós"(2Ts 3,1).
Estes poucos textos do Novo Testamento, portanto, mostram que a obra da evangelização e o trabalho da Igreja, desde o início, contaram com o apoio espiritual e material de todos os batizados. Motivados pela preciosidade da fé recebida e pela gratidão a Deus, todos os membros da Igreja são chamados a colaborar, de várias formas, para que o dom do Evangelho também chegue a outras pessoas. Pela Campanha para a Evangelização, a Igreja no Brasil pede aos batizados que apóiem o trabalho dos evangelizadores, a fim de que muitos, recebendo o dom da fé, nele se alegrem e encontrem a vida.
Tirado do boletim da CNBB "Notícias Dia-a-Dia"- Brasília, 23/11/06
D.Odilo Pedro Scherer
Bispo Auxiliar de S.Paulo
Secretário-Geral da CNBB
Campanha para a Evangelização na época de Jesus e dos Apóstolos
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