Conhecemos bem esse diálogo nos últimos momentos de Jesus, pregado à cruz, com um daqueles que com ele foi crucificado. A conversa é mencionada somente por Lucas 23,39-43. O bom malfeitor diz a Jesus:
Lembra-te de mim, quando vieres com teu reino
E Jesus lhe responde:
Em verdade, eu te digo, hoje estarás comigo no paraíso
Não temos por que duvidar da promessa de Cristo, mesmo podendo tal “rapidez” contrastar com a nossa concepção de vida após a morte, sobretudo em referência ao “período” de purificação que tradicionalmente é reservado àqueles que durante suas vidas cometeram pecados e que precisam se purificar para encontrar definitivamente a Cristo, pois só aos puros é dado vê-lo. Esse período é conhecido tradicionalmente como purgatório. Esse não é um lugar nas nuvens, entre a terra e o paraíso, onde se está esperando o juízo final. Não sabemos o que realmente é, nem como é, mas é possível apenas supor.
Nós acreditamos que imediatamente após a morte o nosso destino é determinado, através de um juízo pessoal. Fica-se ‘esperando’ o juízo universal, que acontece no fim dos tempos. Não existe mudança de destino depois da morte, mas precisamos de um juízo universal porque não somos isolados, mas parte da história, da humanidade.
Toda a discussão sobre ‘lugar’, ‘tempo’ e ‘como’ é hipotética, pois ninguém pode experimentar o que realmente acontece. É a nossa fé que nos leva a crer no encontro definitivo com Deus, no Paraíso.
Essa é a palavra que descreve o ‘lugar’ prometido por Cristo ao bom malfeitor. É um termo que aparece apenas 6 vezes na Bíblia, 3 no Antigo e 3 no novo. A palavra original da zona do Irã que descrevia um jardim com um recinto (pairideza), termo transformado em greto (parádeisos). Em hebraico se tornou pardes, que designa um jardim rico de vegetação, como se vê nas 3 passagens do AT (Cântico 4,3; Coelete 2,5; Neemias 2,8). O tradicional paraíso descrito nos primeiros capítulos da Bíblia, tem outro nome: Eden (Gênesis 2,8).
Paraíso aparece também apenas 3 vezes no Novo Testamento, mas nesse caso não tem mais o sentido básico de jardim e se transforma em símbolo da outra vida, da vida após a morte, como vemos em Lucas 23: o malfeitor pede que Cristo se lembre dele quando entrará no seu “Reino” e Jesus lhe responde falando de “paraíso”, onde lhe acolherá. Outra menção a esta palavra aparece em 2Coríntios 12,2-4, quando Paulo descreve sua experiência mística, o fato de ter sido levado para o paraíso, onde ouvir palavras indizíveis, que ninguém pode pronunciar. Finalmente, também temos parádeisos em Apocalipse 2,7, quando se descreve o “paraíso de Deus” como prêmio para aqueles que se mantém fiéis à prova da perseguição.
Em conclusão, precisamos abandonar a riqueza das imagens que estão na nossa cabeça, também transmitidas pela tradição, sobre o que seja o paraíso e ver como esse termo vale mais pelo conteúdo que transmite do que pelas suas representações. O conteúdo seu é o fato de estarmos em comunhão com Deus, em uma intimidade de vida com Ele, enquanto o inferno é distância, ausência de Deus, separação do abração vital.