Atos 20,7-12 conta um evento curioso entre aqueles da pregação de Paulo. Ele estava em Troâde, com a comunidade cristã no "primeiro dia da semana", no domingo. Fez uma pregação, "prolongando suas palavras até meio dia". Alguém do público, um adolescente de nome Êutico, como acontece também em muitos sermões monôtonos hoje em dia, não resistiu e se adormentou, "enquanto Paulo alongava sua exposição". Estava sentado no peitoril da janela, no terceiro andar, e caiu. A bíblia diz que "quando foram levantá-lo, estava morto" (v. 9). Paulo então "debruçou-se sobre ele, tomou-o nos braços e disse: 'não vos pertugeis; a sua alma está nele!'. E "reconduziram-no vivo, o que os reconfortou sem medida".

Em grego, no original, para a situação do jovem que caiu usa-se o adjetivo nekros, que significa exatamente "morto". Enquanto que, no final da narração ele está "vivo", onde se usa o particípio do verbo "zao", isto é, zonta, que se traduz com "viver".

É evidente que estamos diante de um milagre e não existe nenhuma margem de interpretação que nos leve a crer em um simples "desmaio".

Temos muita dificuldades para lidar com os milagres, sobretudo quem tem um carácter mais cético, que procura entender de maneira mais crítica a Bíblia. Afinal, nos questionamos por que os milagres aconteciam e não acontecem mais. Sabemos bem que milagres acontecem ainda hoje. O que nos ajudaria a entendê-los é vê-los como sinais, algo que vem de Deus e que nos indica uma situação ideal, que deve ser buscada. Deus não faz tudo por que nos deu a liberdade e isso supõe o nosso protagonismo.