É uma pergunta muito legítima para nós que temos fé e procuramos entender as lógicas de Deus. Diante de tantas situações, às vezes Deus parece longe, deixando a história ter o seu próprio rumo, quase indiferente. Por outro lado, lendo a Bíblia, Ele está sempre junto do povo, combatendo suas batalhas, no Antigo Testamento, e fazendo milagres, no Novo Testamento. E agora, por que não aparece?
Não existe uma resposta pronta. Mas há várias ideias que nos podem ajudar a interpretar esse sentimento que temos. Exatamente "sentimento", pois de fato é, acredito profundamente, apenas uma percepção subjetiva de algo que não é verdadeiro. No fundo acredito que Deus continua presente ao nosso lado também hoje, como outrora. Provavelmente temos mais dificuldades em vê-lO, seja pela nossa fé que pode ser pouca ou ingênua ou também por tantas "distrações" que caracterizam nossa vida e nosso modo de ser. Além disso, precisamos entender que, falando de Deus e da sua atuação, estamos diante de um mistério e que, se assim é, não nos é dado entender tudo: Deus não se explica com a mesma lógica de uma explicação científica! O mistério se revela aos poucos, através de uma caminhada de fé, e não será nunca completamente desvelado; de fato, se se revelasse completamente, não seria mais um Mistério. A nossa sede de saber é uma coisa sã, também em nível de fé, pois a fé busca entender, todavia não apliquemos a Deus a lógica científica.
Entrando mais concretamente na sua menção aos personagens bíblicos que você cita, aos quais acrescentaria os milagres que Jesus fazia, poderia dizer que a vida deles são emblemáticas e se revestem de uma característica especial: estão inseridos dentro do contexto da Palavra de Deus. Deus se revela através das Sagradas Escrituras, através da história do povo escolhido, Israel. Por isso o que a Bíblia narra tem um significado especial, que supera os fatos das nossas próprias vidas. Esse foi o modo através do qual Deus escolheu para se revelar, para nos mostrar como Ele é. São exemplos, histórias metodológicas que nos permitem entrar na esfera divina: se ajudou o povo dos hebreus a sair da escravidão do Egito, através da ação de Moisés, temos potencialmente a possibilidade de sair das nossas dificuldades, enfrentar as crises, superar os obstáculos; como Deus esteve com o povo da Bíblia, está conosco. O seu pacto selado sobre o Sinai com Moisés, continua válido ainda hoje, renovado na Nova Aliança feita em Cristo. Toda aliança, obviamente, supõe um compromisso mútuo, também da nossa parte. Até que ponto, como comunidade, temos bastante fé? Infelizmente somos comunidade e não uma pessoa só.
Outro tema, que insinuei acima, é sobre os milagres de Jesus. Ele não curou ou resolveu os problemas de todos do seu tempo. No Evangelho de João fica muito claro que os poucos milagres que Cristo faz são simplesmente "sinais" que mostram como Deus gostaria que fosse o mundo. É difícil para nós entender, mas a liberdade dada a nós por Deus tem seu preço: não somos bonecos nas mãos de Deus, mas seres livres, independentes, capazes de escolher o nosso destino, senhores de nossas decisões. A opção divina, a proposta de Deus está diante de nós, mas é sempre uma proposta, que se escolhida desabrocha em milagres, mas se rejeitada, provoca estragos, infelicidade. E, infelizmente, não basta que alguns sejam fieis para que transforme toda a humanidade. É necessária a adesão comunitária ao plano divino.
De qualquer forma, como conclusão, diria que milagres ainda acontecem hoje e em muitos casos é evidente a presença de Deus na história. Basta olhar a nossa história com olhos de fé e veremos como Deus continua agindo no meio de nós, afinal Ele é Emanuel, Deus conosco.